AS SENHORAS E OS SENHORES DA GUERRA DE BIDEN
2021-01-25
Estrategos das guerras de destruição da Líbia e da Síria, operacionais do golpe fascista na Ucrânia, teóricos neoconservadores, criminosos de guerra ligados às carnificinas na Jugoslávia e no Iraque, por sua vez associados ao núcleo belicista em torno do casal Clinton e Obama, polvilham as principais áreas de intervenção da administração de Joseph Biden.Tudo sob influência de Madeleine Albright, patrocinadora de crimes de guerra, por exemplo nos Balcãs. A comunicação social corporativa continua a “respirar de alívio” com o alegado novo rumo dos Estados Unidos; porém, do quadro actual há que esperar mais guerras, mais ingerência, mais golpes de Estado – “brandos” ou nem tanto.
Jean-Pierre Page, Investig’Action/O Lado Oculto
Como era de prever, uma grande parte da equipa dos neoconservadores da dupla Clinton-Obama regressa em força aos comandos da administração dos Estados Unidos. Todos esses membros têm estratégias de conflito com a mira apontada à na Rússia e ao crescimento do poder da China.
Depois das nomeações para o Departamento de Estado de Anthony Bliken, de Victoria Nuland (estratega do golpe fascista na Ucrânia e esposa de Robert Kagan, autor do famoso “Projecto para o Novo Século Americano”), de William Burns para a CIA e de Lloyd Austin para a Defesa (conhecido criminoso de guerra ligado directamente ao complexo industrial-militar, designadamente ao grupo Raytheon, terceiro produtor de armas dos Estados Unidos), Biden acaba de designar Samantha Power para a chefia da USAID (Agência para o Desenvolvimento Internacional), instituição de ingerência noutros países com mais de 20 mil milhões de dólares de orçamento.
Samantha Power, agraciada com um prémio Pulitzer, é uma protegida da ex-secretária de Estado Madeleine Albright, da administração de Bill Clinton; foi uma antiga correspondente de guerra na Jugoslávia e distingue-se por ser uma das teóricas da ingerência humanitária e das mudanças de regime. Foi membro de peso do Conselho de Segurança Nacional e depois embaixadora com Obama. É conhecida como uma intervencionista de choque.
A direcção da USAID é absolutamente estratégica nos dispositivos norte-americanos. Sob a cobertura de ajuda ao desenvolvimento e de assistência humanitária, a agência está colocada sob a autoridade directa do presidente. No domínio da ingerência, a USAID trabalha estreitamente com o Departamento de Estado, a CIA e a NED (New Endowment for Democracy). A agência dispõe de meios consideráveis como o estatuto diplomático dos seus funcionários, que são entre 15 mil e 20 mil através do mundo – uma rede paralela mas associada à das embaixadas, que são mais de cem. Devido às suas actividades, a USAID tornou-se bastante controversa e foi expulsa de vários países por espionagem: da Rússia, entre outros; e notabilizou-se por ingerências directas em favor de mudanças de regime, designadamente em vários países da América Latina como o Uruguai, a Bolívia ou o Equador. A agência participou directamente no golpe de Estado na Venezuela em 2002, contra Hugo Chavez e está reconhecidamente envolvida nas actividades golpistas sob cobertura “humanitária” desenvolvidas pelo “presidente interino” Juan Guaidó. Além disso, pôs em prática um programa de desestabilização política em Cuba entre 2009 e 2012, notando-se recentemente a reactivação de procedimentos do mesmo tipo.
O núcleo de Obama e Hillary Clinton
Samantha Power faz parte do principal círculo de amigos de Barack Obama, tal como Susan Rice, que vai desempenhar uma posição estratégica como conselheira de Biden em tudo o que diz respeito à política interna dos Estados Unidos. Como membro do Conselho de Segurança Nacional e embaixadora na ONU, este cargo de Rice faz todo o sentido tendo em conta o desastre económico e social, o declínio rápido que os Estados Unidos atravessam e com o qual a nova administração terá de lidar. Outro cargo determinante no Pentágono será desempenhado por Michèle Flournoy; funcionária imperial por excelência, conhecida pelas suas actividades nas tentativas de silenciamento da tortura militar norte-americana, chega a essa posição com a recomendação especial de Hillary Clinton.
Todas estas figuras são “intelectuais” oriundas de “muito boas famílias”, ligadas às redes mais poderosas do mundo dos negócios. Têm diplomas das melhores universidades dos Estados Unidos (Stanford, Instituto de Tecnologia do Massachusets, Harvard, Princeton, Georgetown); estão igualmente ligadas a conhecidas organizações não-governamentais como a Human Rights Watch, a Amnistia Internacional ou a Freedom House e também às fundações mais ricas como a Carnegie Endowment, o Brookings Institute, a Ford, Rockefeller ou a NED.
A este nível dos neoconservadores as qualificações de “democratas” ou “republicanos” são verdadeiramente secundárias. Por exemplo, Kagan era republicano, Blinken é democrata mas trabalham em conjunto. É politicamente importante o artigo assinado recentemente por Kagan e Bliken no Washington Post, onde traçam as grandes linhas da sua visão geopolítica dos Estados Unidos: “América primeiro apenas torna o mundo pior. Eis uma abordagem melhor!”.
No centro de todo este dispositivo encontra-se Madeleine Albright, que deu forma com Richard Williamson ao famoso conceito R2P (“Responsability to Protect”, responsabilidade de proteger) que é a bíblia desta equipa. Madeleine Albright, apesar da sua idade, continua muito activa. Tal como George Soros e a sua Open Society. O conceito R2P é a referência em matéria de ingerência para legitimar a política de “mudança de regime”.
Desta feita iremos assistir a sérias iniciativas para tomar conta de todos os assuntos, a começar pelo controlo de todas as ferramentas para assegurar e reforçar o domínio dos Estados Unidos sobre o mundo, se necessário através de novas guerras. Não tardaremos a comprová-lo.