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O IRÃO VOTOU CONTRA O IMPÉRIO

2021-06-22

Os eleitores iranianos escolheram Sayyed Ibrahim Raisi como presidente em  18 de Junho e deram um apoio massivo à chamada “linha dura” do dirigente religioso ayatollah Khamenei derrotando os “reformistas” do presidente cessante Hassan Rouhani; além disso, deram um novo alento aos aliados regionais do Irão no Líbano, Síria e Iraque. Entre os vencedores das eleições está a memória do assassinado brigadeiro-general Qasem Soleimani e o Corpo de Guardas da Revolução. O Irão votou contra a estratégia divisionista e de ingerência do império.

Por Elijah J. Magnier*, Dossier Sul/O Lado Oculto

A vitória de Sayyed Ibrahim Raisi nas eleições presidenciais iranianas não foi uma surpresa, mas as sondagens e os resultados são muito significativos e enviam mensagens nacionais, regionais e internacionais.

Os números são significativos: Raisi obteve 18 milhões de votos dos 28 milhões expressos, independentemente da pandemia que continua a ameaçar todos os países e a causar uma redução da participação nas eleições. É digno de nota que o segundo lugar foi para outro candidato da “linha dura”, ex-comandante do IRGC – Corpo de Guardas da Revolução Islâmica - Mohsen Rezaei, que obteve 3,4 milhões de votos. O terceiro lugar foi para o ex-presidente do Banco Central, Abdel Nasser Hemmati, que representou o peso dos reformistas, alcançando apenas 2,4 milhões de votos. O legislador conservador Amir Hossein Ghazizadeh Hashemi acabou com mais de um milhão de votos.

Estes números indicam que o povo iraniano que foi às urnas não favoreceu a chegada de outro reformista ao poder após o presidente Hassan Rouhani. Pelo contrário, mais de 22,2 milhões (o total de votos dos eleitores de Raisi, Rezai e Hashemi) apoiaram a política que representa a Revolução Islâmica e a linha do Wali al-Faqih, o ayatollah Sayyed Ali Khamenei. Não há dúvida de que o brigadeiro-general Qasem Soleimani é um parceiro na vitória de Raisi. O seu assassínio pelos Estados Unidos em Bagdade mobilizou milhões de iranianos apoiantes da revolução e injectou sangue novo no seu corpo.

Virar de página

O ex-presidente Sayyed Mohammad Khatami, o guru dos reformistas, declarou que “os iranianos devem participar das eleições para evitar a imposição de uma regra de uma só corrente”. Ele pretendia impedir que o movimento “linha dura” por detrás de Raisi assumisse a presidência. Consequentemente pediu aos iranianos que apoiassem a candidatura reformista – sem declará-lo explicitamente – representada por Hemmati.

Os reformistas esperaram até às últimas horas do dia da votação para compreender em que direcção as tendências eleitorais se deslocavam antes de pressionar o público e os potenciais abstencionistas para apoiarem Hemmati. Mohammad Javad Zarif – ministro dos Negócios Estrangeiros, que era muito popular antes da fuga de uma gravação na qual criticou o brigadeiro-general Qassem Soleimani e, consequentemente, a decisão do ayahtollah Khamenei de apoiar o Corpo Revolucionário da Guarda sobre a política externa – informara que aceitaria o mesmo cargo num governo de Hemmati, de acordo com declarações do chefe da coligação reformista, Behzad Nabavi.

Apesar de todo o apoio e preparação do campo reformista por detrás de Hemmati, este acabou derrotado também por Mohsen Rezaei, que obteve mais um milhão de votos. Os resultados significam que uma maioria esmagadora dos eleitores apoiaram a linha do Imã Khomeini e da revolução representada pelo seu sucessor, Sayyed Ali Khamenei. A escolha eleitoral para os próximos quatro anos confirma o fracasso da linha política reformista definida por Rouhani/Zarif, que perderam a face juntamente com sua reputação nestas eleições presidenciais.

Mensagem para Washington

Há, no entanto, muitos desafios internos e externos à frente do novo presidente Raisi. A situação económica sofrível sob as mais duras sanções que os Estados Unidos impuseram ao Irão nos últimos quarenta anos. O ex-presidente Donald Trump aumentara as sanções para ultrapassar o limiar das 1500. Entretanto, a mensagem eleitoral enviada aos Estados Unidos e seus aliados é clara, e inclui:

1) O presidente Joseph Biden enganou-se se esperava por um presidente reformista que rapidamente sucumbisse à pressão económica e renunciasse à exigência de remover todas as sanções sem excepção; o novo presidente iraniano é leal ao Líder Supremo e não cederá um centímetro nas decisões de Sayyed Ali Khamenei.

 2) Raisi é conhecido por apoiar a Guarda Revolucionária Iraniana. Consequentemente, os aliados do Irão receberão o apoio necessário que Rouhani lhes negou parcialmente nos últimos anos, sob o pretexto de “falta de orçamento”.

Quanto à conclusão destas eleições, um ponto deve ser levado em conta com seriedade. Ou os Estados Unidos levantam todas as sanções contra o Irão e aderem ao acordo nuclear, ou o Irão não cederá e todas as opções permanecerão sobre a mesa, inclusivamente a de o país se transformar num Estado nuclear em todos os sentidos da expressão.

Em relação aos aliados do Irão, a eleição de Raisi deu-lhes um reforço de oxigénio. Há poucas dúvidas de que os aliados do Irão, principalmente no Líbano, Síria e Iraque, estão agora a preparar-se para desenvolver ainda mais a sua oposição à presença dos Estados Unidos na região.  

*Veterano correspondente de guerra veterano e analista político sénior, com mais de três décadas de experiência

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