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QUEM AMEAÇA “VARRER DO MAPA” QUEM NO MÉDIO ORIENTE?

2020-01-11

Israel tem 200 armas nucleares apontadas em permanência contra o Irão. E quatro submarinos que lhe foram oferecidos pela Alemanha navegam em imersão 24 horas sob 24 horas nas águas do Mediterrâneo Oriental, Mar Vermelho e Golfo prontos a lançar ataques nucleares. Quem ameaça “varrer do mapa” quem no Médio Oriente?

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

O anúncio pelo Irão da sua retirada do acordo nuclear 5+1 como resposta ao assassínio do general Qasem Soleimani não irá alterar nada, uma vez que os Estados Unidos já se tinham retirado. O que é muito mais preocupante é o facto de Israel ter um arsenal nuclear, este bem real, e sentir-se tentado a utilizá-lo no caso da retirada das tropas norte-americanas do Médio Oriente.

“O Irão não respeita os acordos sobre o nuclear” (Il Tempo), “O Irão retira-se dos acordos nucleares: um passo para a bomba atómica” (Corriere della Sera), “O Irão prepara bombas atómicas: adeus acordo sobre o nuclear” (Libero): assim foi apresentada por quase todos os meios de comunicação sociais de Itália a decisão do Irão, após o assassínio do general Soleimani ordenado pelo presidente Trump, de deixar de aceitar as limitações ao enriquecimento de urânio previstas no acordo assinado em 2015 com o Grupo 5+1 (Estados Unidos, França, Reino Unido, Rússia, China e Alemanha).

Estes e muitos outros órgãos de “informação” em muitos outros países não têm qualquer dúvida sobre qual é a ameaça nuclear no Médio Oriente. Esquecem-se de que foi o presidente Trump quem, em 2018, retirou os Estados Unidos do acordo que Israel definiu como “a rendição do Ocidente ao eixo do mal guiado pelo Irão”. Não dizem uma palavra sobre o facto de haver uma única potência nuclear no Médio Oriente, Israel, que não é submetida a controlos porque não aderiu ao Tratado de Não-Proliferação, o qual, pelo contrário, foi subscrito pelo Irão.

Um arsenal de devastação

O arsenal israelita, envolvido por uma espessa capa de segredo e silêncio mafioso, está calculado entre 80 e 400 ogivas nucleares, além de bastante plutónio para construir mais umas centenas. Certamente Israel também produz trítio, gás radioactivo com o qual se fabricam armas nucleares de nova geração. Entre elas as minibombas e as bombas de neutrões que, provocando menor contaminação radioactiva, serão mais apropriadas contra alvos pouco afastados de Israel. As ogivas nucleares israelitas estão prontas a ser lançadas por mísseis balísticos que, como o Jericó 3, têm oito a nove mil quilómetros de alcance. A Alemanha forneceu a Israel (sob a forma de donativos ou a preços reduzidos) quatro submarinos Dolphin modificados para o lançamento de mísseis nucleares Popeye Turbo, com um alcance da ordem dos 1500 quilómetros. Silenciosos e podendo ficar em imersão durante uma semana, cruzam o Mediterrâneo Oriental, o Mar Vermelho e o Golfo Árabe-Pérsico 24 horas sob 24 horas prontos a realizar ataques nucleares.

Os Estados Unidos, que já forneceram a Israel mais de 350 caças-bombardeiros F-15 e F-16, preparam-se para enviar pelo menos 75 caças F-35, também eles com dupla capacidade nuclear e convencional. Um primeiro esquadrão de F-35 israelitas está operacional desde Dezembro de 2017. A empresa Israel Aerospace Industries produz as componentes das asas que tornam os F-35 invisíveis aos radares. Graças a esta tecnologia, que será aplicada aos F-35 de outras nacionalidades, Israel potencia as capacidades ofensivas das suas forças nucleares.

Israel – que mantém 200 armas nucleares apontadas contra o Irão, como revelou em 2015 o ex-secretário de Estado norte-americano Collin Powell – está decidido a garantir o monopólio da bomba atómica no Médio Oriente, impedindo o Irão de desenvolver um programa nuclear civil que um dia poderia permitir-lhe fabricar armas nucleares, capacidade de que actualmente dispõem dezenas de países no mundo. No ciclo de exploração do urânio não existe uma clara linha de demarcação entre a utilização civil e a utilização militar da matéria físsil. Para bloquear o programa nuclear iraniano Israel está decidido a recorrer a todos os meios. O assassínio de quatro cientistas nucleares iranianos entre 2010 e 2012 foi, muito provavelmente, obra do Mossad.

Israel+NATO

As forças nucleares israelitas estão integradas no sistema electrónico da NATO no quadro do “Programa de Cooperação Individual” com Israel, país que, embora não seja membro da aliança, tem uma missão permanente no seu quartel-general em Bruxelas. Segundo o plano ensaiado nos exercícios Estados Unidos-Israel Juniper Cobra 2018, forças norte-americanas e da NATO chegariam da Europa (sobretudo das bases em Itália) para apoiar Israel numa guerra contra o Irão. Guerra que poderia começar com um ataque israelita aos centros nucleares iranianos, como o que foi efectuado contra a central iraquiana de Osirak em 1981. O jornal Jerusalem Post confirmou que Israel possui bombas não-nucleares antibunker, utilizáveis sobretudo pelos F-35, podendo atingir a instalações nucleares iranianas de Fordow. Mas o Irão, ainda que não tenha armas nucleares, possui uma capacidade militar de resposta que a Jugoslávia, o Iraque ou a Líbia não tinham na altura dos ataques dos Estados Unidos e da NATO. Neste caso, Israel poderia utilizar uma arma nuclear desencadeando uma reacção em cadeia com consequências imprevisíveis.


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