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IDEÓLOGO DE TRUMP CHEFIA FASCISTAS EUROPEUS

Steve Bannon com Le Pen criando o novo fascismo europeu

2018-11-09

Pilar Camacho, Bruxelas

Steve Bannon, ex-banqueiro do Goldman Sachs, organizador e ideólogo da campanha para eleger Donald Trump, vai dirigir a partir de Bruxelas a campanha dos partidos de extrema-direita na União Europeia para as eleições do Parlamento Europeu a realizar no próximo ano. Enquanto Washington acusa Moscovo, sem apresentar provas, de interferir nas eleições norte-americanas e no referendo de que resultou Brexit, a iniciativa de Bannon confirma uma velha realidade: são os Estados Unidos a potência que se ingere nos assuntos de outros países e organizações.

A criação de um Comité de Coordenação em Bruxelas para gerir, de maneira integrada, as campanhas dos partidos populistas, nacionalistas e fascistas segue-se a uma declaração feita recentemente em Itália, durante uma assembleia de organizações direitistas do continente, e na qual Bannon anunciou que dedicará “oitenta por cento” do seu tempo a ajudar a extrema-direita dos países europeus a alcançar o maior número possível de lugares no Parlamento Europeu. O objectivo é eleger 250 deputados, um terço da câmara de Estrasburgo.
A partir de Bruxelas, “o movimento” conduzido por Bannon irá criar “salas de guerra” em toda a Europa comunitária que servirão de apoio aos partidos fascistas e anti-imigrantes que se apresentarem às eleições europeias, e que também são conhecidos por “eurocépticos”.
Nos bastidores da Comissão Europeia comenta-se que, embora “tratando-se de uma declaração de guerra do ideólogo da actual administração norte-americana contra a União Europeia, a verdade é que Bruxelas tem telhados de vidro em relação a este assunto, uma vez que colaborou com Washington na instalação do regime de extrema-direita na Ucrânia”. Isto é, em matéria de ingerência e de incentivo a correntes nazis, a União Europeia “também tem pecadilhos semelhantes àqueles de que pode acusar os Estados Unidos”, segundo a mesma fonte.

“Marxismo cultural”

O ex-banqueiro do Goldman Sachs, conhecido como “o banco que governa o mundo” devido à rede de ex-dirigentes que desempenham funções em Estados e organizações europeias – incluindo o Banco Central Europeu – e vice-versa, é conhecido pelo seu envolvimento nos meios racistas, supremacistas e neofascistas norte-americanos.
É também um dirigente que pode considerar-se responsável pela cisão em curso dentro do sistema neoliberal global, usando como base a Administração Trump. Para Steve Bannon, a União Europeia conjuga a doutrina económica neoliberal com “o marxismo cultural”, isto é, o neoliberalismo em ambiente de liberalismo de costumes. Em alternativa, ele defende, na prática, que a ortodoxia neoliberal não é compatível com qualquer forma de democracia, o que remete os fascismos de Pinochet no Chile e agora, tudo o indica, Bolsonaro no Brasil.
Não passou despercebido o apoio de Steve Bannon à campanha de Jaír Bolsonaro, tal como – ainda bem antes da criação do seu comité em Bruxelas – auxiliou as estratégias eleitorais de Marine Le Pen em França, Neil Lafarge no Reino Unido, Viktor Orban na Hungria e Matteo Salvini em Itália.

“Acto de guerra”

O recentemente falecido senador norte-americano John McCain, elo de ligação entre Washington e grupos terroristas como a al-Qaida, o Estado Islâmico e o Sector de Direita ucraniano, chegou a acusar a Rússia de cometer um “acto de guerra” ao interferir, supostamente, nas eleições presidenciais norte-americanas, francesas e no referendo que decidiu o Brexit.
As acusações proferidas por McCain e numerosos outros responsáveis norte-americanos, num ambiente caracterizado por contradições entre os serviços secretos a propósito do mesmo assunto, não foram acompanhadas por qualquer prova comprometedora para Moscovo.
Ao invés, as acusações de interferências dos Estados Unidos nos assuntos de outros Estados são sustentadas por um vasto e irrefutável conjunto de provas, desde o golpe contra Jacob Arbenz em 1954, na Guatemala, até ao muito recente suborno de deputados da oposição no Parlamento da Macedónia ex-jugoslava, para abrir caminho à mudança de nome deste Estado e consequente integração na NATO; passando pelos sucessivos golpes fascistas na América Central e do Sul; a conspiração permanente contra Cuba; o apoio activo às acções fascistas e golpistas em Portugal nos anos setenta; a interferência aberta nas eleições russas de 1996 em apoio do desacreditado Boris Ieltsin, homem de confiança de Washington em Moscovo; a guerra, de facto, contra a Venezuela, a Líbia, o Iraque, a Síria e o Afeganistão – incluindo aqui a falsificação de eleições. Longa lista a que se acrescenta a fabricação da actual situação no Brasil.
Steve Bannon não vem agora a Bruxelas fazer nada de muito diferente do que a CIA praticou em Itália, logo a seguir ao fim da Segunda Grande Guerra, para evitar que os comunistas, francamente favoritos, ganhassem as eleições e chegassem ao governo de Roma; ou da tarefa que o actual secretário da Defesa, John Mattis, foi desempenhar à capital da Macedónia, Skopje, desembarcado no próprio dia do referendo sobre a mudança de nome no país e apelando directamente ao voto “sim”. Na ocasião, o governo macedónio, controlado por Washington, acabara de expulsar dois diplomatas russos acusando-os de interferir no referendo.
De acordo com as acusações de ingerência dirigidas por Washington a Moscovo, as acções desenvolvidas pela Rússia tinham igualmente o objectivo de adulterar as recentíssimas eleições intermédias de 6 de Novembro nos Estados Unidos.
Atendendo aos resultados, torna-se difícil saber se a arte de Moscovo funcionou apenas no Senado e falhou fragorosamente na Câmara dos Representantes. E, pelo histórico dos acontecimentos, também não haverá qualquer prova a esclarecer a dúvida.
Nesta matéria subsistem, portanto, incertezas; o mesmo não poderá dizer-se do hábito de ingerências que caracteriza a política dos Estados Unidos, independentemente de quem esteja na Administração.


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