FORÇAS DO PENTÁGONO AMEAÇAM A VENEZUELA

2020-04-03
Luís O. Nunes, Caracas; Exclusivo O Lado Oculto
Os Estados Unidos enviaram forças de guerra para as imediações da Venezuela no âmbito de uma série de acções políticas, conspirativas e terroristas para forçar a mudança de governo no país numa altura em que povo venezuelano se debate contra a epidemia de coronavírus. Um combate travado em situações tornadas ainda muito mais difíceis devido às carências sanitárias impostas pelas sanções dos Estados Unidos e da União Europeia. Portugal surge envolvido em aspectos desta operação conduzida pela administração Trump que viola o direito internacional e contraria a Carta das Nações Unidas.
Forças navais e tropas especiais, com apoio aéreo, estão envolvidas na operação militar do Pentágono, através do Comando Sul (SouthCom), desencadeada sob o pretexto oficial de “combate ao narcotráfico”. Segundo a propaganda do governo Trump, o governo da Venezuela estaria a preparar-se para “inundar” os Estados Unidos com cocaína e o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, seria mesmo o principal responsável pela “operação”.
As realidades do narcotráfico na América Latina revelam a mentira em que se baseia o argumento de Trump: as quantidades de coca que passam pelo território da Venezuela são residuais – e marginais – quando comparadas com as da responsabilidade da Colômbia, o maior produtor mundial e um narco Estado que é também um dos maiores aliados dos Estados Unidos na região.
Além disso, os mais importantes países de passagem de cocaína na zona são as Honduras e a Guatemala, que têm regimes tutelados pelos Estados Unidos. O irmão do presidente hondurenho tem sido comprovadamente acusado de ser um barão da cocaína.
“Intimidação”
A presença de forças de guerra nas imediações da Venezuela “é uma intimidação terrorista, não tem nada a ver com o combate ao narcotráfico”, dizem autoridades venezuelanas.
Uma “intimidação” porque “a Venezuela resiste, apesar das sanções impostas pelos Estados Unidos e a União Europeia”; uma operação desencadeada neste momento para tentar tirar proveito das dificuldades na luta contra o COVID-19 e porque o governo venezuelano rejeitou liminarmente o “plano de transição democrática” apresentado por Trump e o secretário de Estado, Michael Pompeo. Este novo projecto golpista defende a implantação de mecanismos de gestão transitória que não estão previstos pela Constituição do país e que teriam como objectivo entregar o governo do país a um “Conselho de Estado” formado paritariamente por representantes do actual sistema de governo e das facções de oposição encabeçadas pelo autoproclamado “presidente interino”, Juan Guaidó. Nos termos do plano, nem Maduro, o presidente legítimo da Venezuela, nem Guaidó integrariam o “Conselho de Estado” – obviamente uma manobra para retirar e chefe de Estado do cargo. Como, aliás, Pompeo confirmou ao dizer que “a partir da entrada em vigor (da transição) Maduro nunca mais voltará ao poder na Venezuela”. Isto diz o secretário de Estado norte-americano ao mesmo tempo que garante o seu projecto como sendo a via para “eleições livres e democráticas sem restrições de candidaturas”; “eleições” que, por definição do próprio Pompeo, não poderiam ser ganhas pelo presidente em exercício.
A apresentação do “plano de transição” é, por outro lado, uma tentativa norte-americana para sabotar o diálogo interno entre o governo e um vasto leque de forças de oposição ao qual se opõe unicamente o sector afecto a Guaidó – que atravessa um nível muito baixo de popularidade.
“Para proteger Guaidó”
Nos meios políticos de Caracas também não existem dúvidas de que a operação militar norte-americana – que o governo venezuelano está a tomar muito a sério tomando medidas adequadas – tem igualmente o objectivo de proteger Juan Guaidó, agora verdadeiramente a contas com a justiça depois de denunciado como integrante de uma conspiração para assassinar o presidente Maduro.
A denúncia foi feita pelo antigo major-general Clíver Alcalá, o desertor de mais elevada patente das Forças Armadas Bolivarianas, que vivia na Colômbia gerindo campos de treino de paramilitares e preparando acções de guerra para tentar o derrubar o governo. Transformara-se igualmente num barão da droga.
Na sequência da desarticulação de uma operação armada, através da descoberta de um carregamento de armas feita pelas autoridades venezuelanas, Clíver Alcalá deu uma entrevista à Rádio W da Colômbia em que revelou a existência de um plano para assassinar Maduro delineado por ele próprio em colaboração com Juan Guaidó, o empresário venezuelano JJ Rondón, conselheiro do presidente colombiano Iván Duque, e grupos de assessores norte-americanos.
Depois de ter feito a denúncia, Clíver Alcalá foi incluído apressadamente na lista dos “narcotraficantes” pelos quais os Estados Unidos oferecem recompensas milionárias e acabou por “render-se” a agentes norte-americanos na Colômbia. O acto de detenção revelou-se patético, pois Alcalá não foi algemado e cumprimentou efusivamente os seus “captores” antes de tomar o avião para os Estados Unidos.
Em Caracas não existem dúvidas de que Clíver Alcalá foi “resgatado” pelas entidades norte-americanas para quem efectivamente trabalha.
Na sequência da revelação do plano de conspiração, o “presidente interino” Juan Guaidó, na realidade “presidente” de um “parlamento paralelo” em Caracas criado com apoio norte-americano, foi convocado pela justiça do país para explicar o seu papel na preparação do assassínio do chefe de Estado.
O “triste papel de Portugal”
As autoridades de Caracas lamentam o “triste envolvimento de Portugal” em manobras contra a soberania da Venezuela, designadamente o apoio imediato ao “plano de transição democrática” de Trump e Pompeo assumido em comunicado publicado no site oficial do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Esta atitude de alinhamento com “a nova estratégia golpista” da administração Trump vem somar-se ao reconhecimento de Juan Guaidó como “presidente interino” e à participação de entidades portuguesas nas sanções e no bloqueio a bens venezuelanos, designadamente ouro e activos bancários.
Caracas lamenta ainda as “histórias mal contadas” envolvendo a companhia aérea portuguesa TAP, Juan Guaidó e um membro da sua família transportando explosivos a bordo de um avião. A este episódio junta-se agora o “acto de pirataria” cometido por um navio de passageiros de bandeira portuguesa, o Resolute, que em águas territoriais venezuelanas abalroou e afundou uma embarcação da Guarda Costeira seguindo depois o seu caminho sem prestar apoio aos náufragos, violando grosseiramente as normas do direito marítimo internacional.
As autoridades venezuelanas lamentam a atitude do governo português em mais este caso, ao preferir escudar-se no facto de o navio pertencer a “uma empresa privada” em vez de colaborar no esclarecimento do estranho acontecimento.