O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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OS VERMES ALIMENTAM-SE DE CADÁVERES

Jair Bolsonaro não sabe o que fazer com a máscara

2020-03-30

Marcelo Zero, Brasília; America Latina en Movimiento/O Lado Oculto

O helminto* que desgoverna o Brasil cometeu um pronunciamento inacreditável. 

Na contramão da ciência, da OMS (Organização Mundial de Saúde), das boas medidas dos governadores e de todos os países sérios do mundo, o helminto falante ou o “helminto quando falo”, voltou a dizer que o COVID-19 não passa de uma “gripezinha” e que as pessoas deveriam abandonar os cuidados do isolamento social, que as escolas deveriam ser reabertas, bem como os centros comerciais, restaurantes etc. Para ele, tudo isso não passa de histeria alimentada, claro, pela imprensa. E que o problema da Itália é ter muitos velhos e um inverno rigoroso. Nós, jovens tropicais, podemos ficar tranquilos.

Vaidoso, o musculoso helminto afirmou que, ante o seu “histórico de atleta”, o COVID-19 não lhe traria problemas. Ainda não sabemos se o COVID-19 concorda.

Não, o helminto não está louco. Tem, sem dúvida, sérias limitações cognitivas, mas não é um celerado. Sabe o que faz. Mente com propósito. 

O helminto está simplesmente defendendo os interesses das oligarquias parasíticas que o colocaram no poder.

Ele e sua gloriosa equipa de invertebrados neoliberais estão a fazer aquilo a que os norte-americanos chamam de bean counting (“favas contadas”).

A expressão ficou famosa quando o grande defensor dos consumidores, Ralph Nader, acusou as grandes montadoras de automóveis de vender modelos que elas sabiam ser muito inseguros. 

Como funcionava o esquema? Os contabilistas das companhias calculavam quantas pessoas iriam morrer, por ano, devido à insegurança de um determinado modelo. Em seguida, calculavam quanto teriam de pagar de indemnização a cada família. Feito isso, comparavam os custos totais das indemnizações com o custo de fazer um recall (aviso para vistoria nas oficinas) e corrigir os problemas que iriam matar os consumidores. Como o custo de recall era consideravelmente mais alto que os custos (baixos, na época) das indemnizações, optava-se por não alertar os consumidores e deixá-los morrer. Favas contadas.

Deixar morrer é mais barato

O helminto faz o mesmo com o povo que despreza. Deixar morrer de COVID-19 é mais barato do que combater a sério a epidemia.

Combater eficazmente a epidemia implica aumentar bastante os gastos com a saúde pública e não os reduzir, como o governo de vermes vinha fazendo. Além disso, implica tomar robustas medidas anticíclicas para manter os rendimentos da população que terá de ficar em casa, proteger os mais vulneráveis do sector informal, manter os pequenos negócios etc.

Governos minimamente responsáveis vêm fazendo exactamente isso. Até os Estados Unidos, terra do liberalismo económico, acabam de aprovar um pacote de estímulos de cerca de dois biliões de dólares. Vão dar mil dólares por mês para que as famílias possam ficar em casa durante a crise.

Mas o verme pinochetista não gasta dessa opção. Por isso, apresentou um pacote que não prevê dinheiro novo para entrar na economia e que até estabelecia o não pagamento de salários aos trabalhadores.

Os vermes não querem comprometer as suas metas fiscais ortodoxas, o austericídio eterno e a agenda ultraneoliberal que vem arrasando o país há quatro anos.  Ao contrário, querem usar o desastre do coronavírus para apressá-la e aprofundá-la. 

Além disso, tomar medidas anticíclicas robustas significaria reconhecer, definitivamente, o fracasso irremediável do descaminho neoliberal para resolver a crise do Brasil e a incompetência de um governo de amibas.

Neste sentido, deixar o barco correr, deixar a selecção natural seguir seu curso, como aconteceu na pandemia da gripe espanhola, é bem mais barato, seguindo a lógica perversa do bean counting, do que ser responsável e humanitário.  Se morrer muita gente, será, em sua maioria, gente pobre e dispensável, facilmente substituível. E, se o custo político ameaçar tornar-se muito alto, pode lançar-se a culpa na China e no PT. Em última instância, pode até usar-se a crise para fechar o regime, o grande sonho dos seres rastejantes.

O helminto declarou, certa vez, que o erro da ditadura foi não ter matado umas 30 mil pessoas. Quem sabe se ele não ultrapassa essa meta? Quem sabe se essa não é a verdadeira intenção do helminto?

Não, o helminto e as oligarquias parasíticas que o colocaram lá não querem saber de gastar dinheiro com pobres. Não querem salvar vidas. Nem sequer pensam em salvar o Brasil. Pensam apenas nos seus interesses imediatos e mesquinhos.

Afinal, os vermes alimenta-se de cadáveres.

*Verme parasita



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