A ESTRANHA MORTE DO BOSS DOS CAPACETES BRANCOS

2019-11-19
Edward Barnes, Damasco; com Paul Antonopoulos, infoBrics
James Le Mesurier, fundador dos Capacetes Brancos, um grupo de “ajuda humanitária” ligado à al-Qaida e actuando entre os terroristas na Síria, foi encontrado morto no dia 11 de Setembro em Istambul, em circunstâncias duvidosas e confusas. Muitas interrogações se levantam em torno do falecimento deste mercenário referenciado pelas suas ligações a serviços secretos, designadamente o MI6 britânico, e grupos terroristas.
O facto de Le Mesurier ter fundado os Capacetes Brancos permitiu concluir a estreita ligação deste grupo provocatório e terrorista com os serviços secretos ocidentais que estão por detrás da guerra contra a Síria. Os Capacetes Brancos, muito sustentados pela propaganda mainstream Ocidental, de tal maneira que foram agraciados com um Oscar de Hollywood através de um documentário sobre as suas actividades “humanitárias”, tornaram-se ainda conhecidos, por outro lado, por encenar falsos ataques químicos cuja responsabilidade foi depois atribuída ao governo de Damasco. Este tipo de actividades gerou inclusivamente escândalos no interior da Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPCW,OPAQ), entidade agraciada com um Nobel e que recentemente foi acusada de falsificar relatórios sobre a utilização desse tipo de engenhos na Síria.
O jornalista turco Ramazan Bursa afirma que a morte suspeita de Le Mesurier demonstra claramente a ligação dos Capacetes Brancos com organizações de inteligência, especialmente o MI6 britânico.
Esta ligação é quase sempre ignorada pelos media ocidentais, mas no dia 8 de Novembro o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia fez uma revelação surpreendente. A porta-voz deste departamento, Maria Zakharova, afirmou que:
“O cofundador dos Capacetes Brancos, James Le Mesurier, é um ex-agente dos MI6 da Grã-Bretanha que desenvolveu actividades em todo o mundo, inclusivamente nos Balcãs e no Médio Oriente. As suas ligações com grupos terroristas foram detectadas durante a missão desempenhada no Kosovo”.
Alguns dias depois de divulgada esta informação, James Le Mesurier foi encontrado morto…
Um “verdadeiro herói”
Naturalmente, a representante permanente do Reino Unido na ONU, Karen Pierce, negou as declarações de Zakharova afirmando que são “categoricamente falsas”. Na verdade, segundo a diplomata, Le Mesurier era um “soldado britânico” que depois descreveu como “um verdadeiro herói”. Reveladora a escolha de palavras feita por Pierce, já que o fundador dos Capacetes Brancos tem uma longa história de trabalho ao lado de terroristas, como Zakharova também destacou.
James Le Mesurier serviu na guerra da NATO contra a Jugoslávia para defender o Exército de Libertação do Kosovo (ELK), entidade terrorista de etnia albanesa que em 2000 transformou esta província sérvia num paraíso dos traficantes de heroína e também um centro para tráfico de seres humanos, de órgãos humanos extraídos a prisioneiros políticos e de guerra, no quadro do objectivo de criar uma “Grande Albânia” como um polo anti-russo.
Inimigo do povo sírio
Porém, não foi essencialmente no Kosovo que James Le Mesurier encontrou a fama, mas sim graças ao trabalho contra a Síria.
Não se limitou apenas a fundar e desenvolver os Capacetes Brancos. Conseguiu financiamentos significativos para a organização terrorista dos governos do Reino Unido, Estados Unidos, Turquia, Alemanha, Qatar, Holanda, Dinamarca e Japão. Ainda muito recentemente, com os Capacetes plenamente desacreditados, o presidente dos Estados Unidos anunciou o envio de mais 4,5 milhões de dólares para o grupo. As profundas ligações de Le Mesurier com as forças armadas britânicas e a sua vasta experiência como mercenário ao serviço das ditaduras do Golfo fizeram dele a figura perfeita para estabelecer um “grupo de resgate” que servisse para legitimar terroristas que operam na Síria e realizar pressão no sentido de uma mudança de regime.
A par das ligações dos Capacetes Brancos com organizações terroristas e da organização de encenações de incidentes com armas químicas, o grupo também desempenha um papel na execução de civis e na utilização de crianças nas suas campanhas de propaganda. Le Mesurier era, sem dúvida, um homem com bolsos fundos e ligações profundas, o que lhe permitia o acesso a recursos disponibilizados por organizações de inteligência internacional e lhe facultou enorme experiência no apoio a grupos terroristas em zonas de conflito.
Nas mãos da al-Qaida
Ao contrário do que afirmam, os Capacetes Brancos não são uma organização de defesa civil porque nunca operaram em áreas controladas pelo governo, apesar de se dizerem neutros na guerra. Apesar da constante propaganda dos media ocidentais segundo a qual os Capacetes Brancos são uma “organização humanitária”, o grupo não passa de mais um exemplo clássico de como o governo dos Estados Unidos arma terroristas para tratar das suas próprias agendas, tal como o Exército de Libertação do Kosovo foi usado contra a Sérvia ou os Mujahidines afegãos, que depois deram origem à al-Qaida, foram usados contra a presença soviética no Afeganistão.
Como as circunstâncias da guerra contra a Síria mudaram, também os Capacetes Brancos agora têm menos condições para desempenhar o papel de “organização de defesa civil”: operam em áreas muito reduzidas e que ainda estão nas mãos da al-Qaida e de outros grupos terroristas, pelo que a conexão se torna óbvia. Deixaram de se poder mostrar credivelmente como uma entidade “inocente” ou “neutra” que apenas ajuda civis. Vêm naturalmente ao de cima as cumplicidades entre terrorismo, agências de inteligência e “organizações humanitárias”.
Tendo em conta que o fundador dos Capacetes Brancos agora falecido em Istambul é um ex-oficial da espionagem britânica não custa acreditar que a organização faça parte da constelação das que servem as agências de inteligência e o seu papel nas guerras que hoje se multiplicam. A morte confusa de um ex-membro da inteligência britânica que vivia em Istambul com a família deve levantar sérias interrogações.
Um “suicídio” pouco convincente
Começa por ser intrigante o facto de uma pessoa com estas características, dedicando-se a tais actividades e tendo a cidadania britânica viver com a família numa grande metrópole da Turquia – um dos quartéis-generais da guerra contra a Síria.
Além disso, a morte de Le Mesurier poderia ter sido relatada pela imprensa turca como a de um cidadão britânico, ou mesmo um ex-membro da inteligência de Londres. Mas não: os media descreveram-na como a morte do fundador dos Capacetes Brancos. Por outras palavras, os media turcos parecem ter admitido tacitamente que os Capacetes Brancos não são uma organização não-governamental inocente e anódina. Naturalmente, esta circunstância também não deve estar desligada da existência de algumas mudanças no relacionamento entre Damasco e Ancara. A abordagem do Ocidente à invasão turca poderá ter alguma influência na mudança de atitude da Turquia em relação aos Capacetes Brancos.
Uma fonte dos serviços de segurança afirmou que Le Mesurier caiu da varanda do escritório em sua casa; o caso ganhou foros de suicídio suspeito, tanto mais que uma terceira pessoa – um diplomata – alegou num depoimento ao jornal britânico The Sun que as circunstâncias da morte não são claras.
Um jornalista da BBC, Mark Urban, afirmou numa série de tweets – entretanto apagados – que “não teria sido possível” Le Mesurier cair da varanda em causa. Numa das mensagens o jornalista admitiu que “existe forte suspeita de que possa ter sido assassinado por um intérprete estatal, embora outros sugiram que pode ter tirado a vida a si próprio”.
Assassínio, suicídio ou acidente? Não se sabe, talvez nunca venha a saber-se. Isso não impede os media britânicos de aludir ao facto de poder haver uma ligação entre o caso e a “a campanha de difamação russa” ocorrida na sexta-feira, dia 8, três dias antes da sua morte. Não esqueçamos que Londres é um dos principais focos europeus da agressividade contra a Rússia.
As hipóteses de assassínio não são de descartar. A comunicação social turca dá conta de que o cadáver foi encontrado na rua com cortes no rosto e fracturas nos pés.
A pergunta que surge nestas circunstâncias é: quem poderá ter sido? Será cedo para extrair deduções consistentes, tudo o que está a ser dito pode não passar de especulação ou de manobra de diversão; não é novidade, porém, que o Ocidente tem uma longa história de desaparecimentos dos seus colaboradores, sobretudo quando deixam de ser necessários e têm uma memória muito bem fornecida de factos.
Perante os avanços das tropas governamentais sírias e dos seus aliados, sugerindo que se fale de uma inevitável vitória de Damasco sobre os terroristas, os Capacetes Brancos perdem utilidade na Síria. A sua existência pode tornar-se um perigo se os responsáveis do grupo decidirem fazer revelações em grande escala sobre a profundidade dos seus laços com agências de inteligência ocidentais e do Golfo e organizações terroristas.
Embora as revelações estejam começando a surgir lentamente, Le Mesurier possuía, sem dúvida, uma riqueza de conhecimentos e segredos sujos relacionados com a guerra imperialista que ainda continua a ser travada contra a Síria. A sua morte e as circunstâncias, no mínimo estranhas, em que aconteceu contêm implicitamente uma advertência contra todos os que, entre chefes e operacionais dos Capacetes Brancos, não souberem guardar o recomendável silêncio sobre as suas práticas, ligações e patrocínios.