O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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HÁ MELHORES CAMINHOS PARA A HUMANIDADE

A construção de escolas nos lugares mais recônditos do país permitiu acabar com o analfabetismo na Bolívia

2018-12-14

Zillah Branco, especial para O Lado Oculto

A humanidade tem sofrido as consequências da crise do sistema capitalista que estrebucha no mundo inteiro, agravando a miséria que derivou da ganância criminosa das elites imperialistas. Novamente ressurgem grupos fascistas que agravam as situações caóticas com o seu habitual vandalismo, utilizando as manifestações pacíficas das populações que reivindicam os seus direitos já consignados (nem sempre cumpridos pelos governos) nas Constituições nacionais e nos Princípios da ONU. O grande exemplo, recente, explodiu em Paris, em plena época natalícia, quando o comércio exibe a beleza luminosa das suas convidativas promoções como incentivo ao descontrolado consumismo.

É a época do caos que lembra Nero na decadência do Império Romano. Os fugitivos de regiões mantidas na miséria pelas políticas colonialistas, somam milhões de cidadãos expulsos dos seus países assaltados por invasores organizados em exércitos ou grupos terroristas (armados pelo imperialismo) que, além de matarem impiedosamente, provocam o aumento imparável das condições de miséria impostas a nações que perderam a sua soberania e são escravizadas por um poder estrangeiro que pretende ser unipolar.

Os actos de agressões são "justificados" pelos media globais com base em farta documentação que segue o modelo das leis, com extensas análises jurídicas e fundamentações em linguagem científica, forjadas por burocratas altamente remunerados para defenderem as elites e condenarem os trabalhadores. E, dessa forma, divulgam os desígnios dos que promovem a comercialização dos produtos de maneira a obterem lucros com os sistemas de extração das riquezas do subsolo, compra e venda do produto bruto, transporte, embalagem, promoções, autorizações e proibições que regulam a dependência de nações pobres e o domínio por grandes empresas acima da soberania de qualquer pátria. E formam a opinião pública treinada  como papagaios.

A missão da ONU

Mas, afinal, este desgoverno quase planetário tem uma organização criada depois da Grande Guerra - a ONU - para manter o equilíbrio multipolar. Com a paciência proverbial dos orientais, foi um embaixador da China no Reino Unido, Liu Xiaoming, quem divulgou a mensagem lúcida: "O Grupo dos Vinte (G20) deve enviar uma mensagem clara de defesa do multilateralismo para conduzir a globalização económica na direcção correta", disse antes da cimeira do G20 na Argentina num recente artigo publicado pela revista britânica “First”.

Liu disse que o G20 é um “importante campo de batalha” para proteger o multilateralismo, por ser um local importante para que os países desenvolvidos e em desenvolvimento participem em consultas e tomem decisões em pé de igualdade sobre assuntos de desenvolvimento e governança global. Chama a atenção para que a ONU "defenda o espírito de associação, reforce a confiança global e trabalhe por um crescimento económico mundial robusto, sustentável, equilibrado e inclusivo".

Ao indicar que a metade dos membros do G20 é constituída por países em desenvolvimento, Liu comentou: (o G20) “tem a obrigação de lhes criar mais oportunidades, promovendo o crescimento económico mundial, e oferecendo-lhes mais apoio com o impulso da cooperação internacional para o desenvolvimento”. Ao referir a necessidade de os países conquistarem a sua soberania mediante a organização dos seus próprios planos internos, com base no "desenvolvimento sustentável e estabelecendo políticas associativas preferenciais", o embaixador Liu revela: "Na China, 40 anos de reforma e abertura não só criaram um milagre de desenvolvimento mas também oportunidades enormes para o mundo”.

O Presidente da China, Xi Jinping, no encontro do G20, observou a necessidade de promover condições de crescimento da produtividade e de associativismo para todas as nações em desenvolvimento com vista ao futuro das relações de produção. "Neste processo, os países estão a tornar-se, cada vez mais, uma comunidade com interesses compartilhados, responsabilidades compartilhadas e um futuro compartilhado", observou Xi, enfatizando que "a cooperação com vantagens recíprocas será a única escolha no futuro."

As pontas de lança do imperialismo

Enquanto a ONU promove debates no G20 sobre a preocupação com a paz e a possibilidade de desenvolver as forças produtivas dos países por meio da colaboração global, o ideólogo de Trump, Steve Banon, forma um instituto universitário em Itália para formar especialistas em técnicas digitais para invadirem as redes sociais consideradas "alternativas" aos media hegemónicos e apoiarem a direita fascista no assalto ao poder até agora ocupado pela social-democracia. As suas experiências expandem-se pelas nações europeias, como se assiste em Paris, e ameaça outras capitais, depois de terem sido iniciadas na América Latina contra as forças progressistas que, ha duas décadas, formaram governos e promoveram associações regionais que abriram caminho para a recuperação da soberania nacional e a promoção do desenvolvimento das respectivas forças produtivas nacionais.

Este novo caminho para um futuro de liberdade e democracia, que surgira no Brasil com a eleição de Lula - como na Venezuela, Nicaragua, Argentina, Bolívia, Uruguai, Paraguai - foi cortado brutalmente pelo processo fascizante de Trump e Banon, conjugado com a iniciativa de promover o golpe através de Temer e sua camarilha (com apoio das forças da ditadura militar adormecidas desde 1985) para eleger Bolsonaro. Antes mesmo da sua posse no governo, este fantoche do moderno fascismo promove um encontro com os seus colegas reaccionários numa Cimeira Conservadora das Américas,"a primeira do género, uma iniciativa bolsonarista que tentará aproximar reancionários do continente para ações políticas conjuntas. A “fauna” que se reuniu no dia 8/12 em Foz do Iguaçu, no Paraná, foi variada e teve como estrela bolsonarista o filho mais novo do ex-capitão, Eduardo, uma espécie de chanceler paralelo do futuro governo do pai.

Com ele estiveram: um presidenciável chileno admirador de Augusto Pinochet, um exilado cubano acusado de terrorismo nos anos 1980 e uma senadora colombiana que nega ter havido um facto histórico reconhecido por historiadores de seu país, a matança de mil e oitocentos camponeses grevistas em 1928. Também da Colômbia, falou, mas por videoconferência, um ex-presidente que renunciou ao Senado neste ano por acusação de suborno e fraude e depois voltou atrás na renúncia, embora o processo contra ele continue no Supremo Tribunal. Trata-se de Álvaro Uribe, presidente de 2002 a 2010, que participou no debate sobre segurança, um dos quatro temas do evento.(Como revela a media "alternativa", Canal 247, no Brasil).

E os media globais, amarrados aos financiamentos do sistema imperialista, prossegue nas "fakes news" habituais que repudiam as nações que ousam defender o caminho da democracia e da soberania dos povos, ocultando as revelações dos chineses que apoiam a reforma necessária da Organização Mundial do Comércio, e acreditam que "é crucial defender os valores essenciais e princípios fundamentais da OMC como abertura, abrangência e não discriminação, e garantir os interesses de desenvolvimento e espaço de política dos países em desenvolvimento", como frisou o presidente chinês.

É importante ressaltar o esforço de um país dirigido pelo Partido Comunista (e, por esta razão ser alvo de ataques preconceituosos pela forças retrógradas que orientam os media globais) que defende "as três ferramentas definidas pelo sistema capitalista para o organismo internacional: políticas fiscais, monetárias e reforma estrutural, a serem aplicadas de modo holístico para garantir um crescimento forte, equilibrado, sustentável e inclusivo da economia mundial," como disse o presidente Xi Jinping, pedindo que  "esteja comprometido com a cooperação de vantagens recíprocas para promover o desenvolvimento mundial inclusivo."

Êxitos de governos progressistas

É importante acompanhar os êxitos de governos progressistas, como os da Venezuela e da Bolívia, que marcaram as suas trajetórias no combate sem tréguas ao neoliberalismo e fortaleceram a política governamental voltados para as características dos seus povos e traçando planos para satisfazer as necessidades prementes de sobrevivência e desenvolvimento. Os projetos desses governos priorizam o crescimento forte, equilibrado, sustentável e inclusivo da sua população, além de participarem na troca de produtos e de experiências com os demais, a nível regional e internacional. Aplicam os princípios que foram teorizados pela ONU, tornando-os uma realidade humanista, além de política.

Apesar das falsidades que os media globais despejam sobre o mundo, a Venezuela constrói desde 1998 o caminho traçado por Hugo Chaves na defesa dos Direitos Humanos, com liberdade de expressão, melhor distribuição de rendimentos, redução do analfabetismo, ensino e saúde gratuitos, democracia participativa que inclui o referendo revogatório para leis nacionais. São análises internacionais (International Consulting) que registam 80,9% de apoio popular ao Presidente  Maduro, 85,4% condenam os actos de violência e 80% da comunicação social no país é privada. Enquanto Trump ameaça invadir a Venezuela e estimula a fuga de uma burguesia que lamenta a impossibilidade de explorar os trabalhadores naquela nação, o governo de Nicolas Maduro promoveu, dia 9/12, uma eleição da estrutura de poder local que abrange 2.489 cargos municipais, alcançando o apoio de 92,8% dos resultados para o Grande Polo Patriótico que reune várias organizações, o que comprova a realidade de um povo que continua a ser soberano.

A Bolívia era um dos países mais pobres da América Latina quando as suas riquezas minerais - gás, petróleo e estanho - eram exportadas em bruto por empresas multinacionais associadas às velhas famílias oligárquicas do país. Com a eleição de Evo Morales, líder indígena, que formou um governo disposto a combater o neoliberalismo e estabelecer um equilíbrio plurinacional com reconhecimento das identidades indígenas, estatizou as empresas de exportação e passou a ter um crescimento anual do PIB em 5%. Assumiu o controlo das terras e redistribuiu-as em propriedades privadas pequenas e médias, estabelecendo um controlo sobre a cadeia produtiva, de modo a garantir o autoabastecimento alimentar. Esta experiência que tem permitido o reconhecimento internacional dos seus êxitos abre importante campo de estudo antropológico da riqueza cultural indígena, a começar pela capacidade de organização comunitária para assegurar a sobrevivência com recursos limitados em condições climáticas adversas, devido às elevadas altitudes e baixas temperaturas, e pelo uso de produtos naturais com qualidades medicinais. O primeiro exemplo é o da folha verde de coca - que não deve ser confundida com a branca, da cocaína, utilizada pelo narcotráfico, combatido na Bolívia.

Com a preocupação de "superar 500 anos de desprezo, ódio, escravidão e exterminio pelos colonialistas", como disse Evo Morales na Assembleia da ONU, a Bolívia traçou um caminho de "refundação" do Estado, de modo a priorizar os serviço públicos sociais para eliminar as carências e taxou as grandes fortunas e os elevados lucros para manter alianças apenas com empresas privadas adequadas. A Constituição de 2009 estabelece que os serviços públicos devem ser considerados como Direitos Humanos. Para a sua plena aplicação, o governo reduz contínuamente os preços da água, do gás e da energia elétrica. Já foi eliminado o analfabetismo e foram feitos investimentos em centros culturais e desportivos, construídas estradas e teleféricos, e promovida a construção de um porto no Perú para atender o movimento de importação e exportação boliviano. O gráu de pobreza, que era de 63% da população em 2004, foi reduzido para 39% em 2015. É um processo gradual, principalmente devido às pressões do imperialismo e dos media hegemónicos, mas que tem evoluído permanentemente, segundo as avaliações da ONU.

E, no mesmo caminho aberto pela Venezuela e Bolívia, agora surge o México que elegeu Lopez Obrador - incentivador, em 2012, do Movimiento de Regeneración Nacional que promoveu a coligação das forças de esquerda. A sua vitória ficou assinalada pelas fortes palavras com que definiu o programa de governo "contra a corrupção e os abusos de privatização que constituem a marca do neoliberalismo". Anunciou o corte dos mais elevados salários do Estado, a começar pelo seu, como Presidente, o aumento em 100% do salário mínimo nacional e a cobrança de impostos sobre fortunas e rendimentos de grandes empresas.

Nesta fase crítica do capitalismo, os conceitos teóricos que sempre fizeram parte da definição de princípios da ONU e dos discursos utilizados para conquistar o apoio eleitoral das populações - direitos humanos, democracia, previdência social, saúde universal, educação gratuita para todos, solidariedade com povos vitimados por catástrofes - com as promessas de criação de Estados Sociais e de laços de amizade sem discriminações face às diferenças económicas e culturais, assumem uma condição única e urgente para a superação do caos que envolve também o continente europeu e os países mais ricos de outras áreas geográficas. Exige-se discernimento e coragem cívica para dignificar os altos cargos das estruturas políticas a nível nacional e internacional. É o momento da unidade com respeito pelas nações soberanas num mundo multipolar.



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