O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

O Lado Oculto é uma publicação livre e independente. As opiniões manifestadas pelos colaboradores não vinculam os membros do Colectivo Redactorial, entidade que define a linha informativa.

Assinar

CHINA VAI GERIR OS PORTOS ISRAELITAS

O porto de Ashdod é um dos que vai ser geridos pela empresa chinesa Shangai International Port Group

2018-10-18

Christopher Wadi, Jerusalém Leste

A empresa pública chinesa Shangai International Port Group acaba de obter a concessão da exploração dos portos israelitas de Haifa e Ashdod, no Mediterrâneo. A construção de um túnel sob o Monte Carmelo, que duplicará a capacidade de aprovisionamento do porto de Haifa, será uma igualmente uma obra de responsabilidade chinesa. Estes dados têm uma influência regional e geoestratégica que ultrapassa a mera questão comercial.

Haifa e Ashdod são os dois principais portos israelitas, o que significa a possibilidade de 90 por cento do comércio internacional israelita estar sob concessão chinesa dentro de aproximadamente três anos.
Tendo em consideração a estreita ligação existente entre Israel e os Estados Unidos, não parece possível que esta entrada em força da China na economia israelita se faça à revelia de Washington. Sabe-se que o assunto tem suscitado posições desfavoráveis dentro do Pentágono e surge na contra-corrente da “guerra comercial” entre os Estados Unidos e a China, mas não seria possível sem o aval norte-americano.
A República Popular da China tem vindo a assentar a sua dinâmica comercial internacional em várias frentes, designadamente a estratégia Cintura e Estrada, a reconstituição da ideia da Rota da Seda – segundo pelo menos quatro percursos alternativos – e também a mais recente acção designada “Made in China 2025”, tendo esta um objectivo de liderança no plano das tecnologias de ponta.

Rota da Seda

Aparentemente, esta entrada em força em Israel integra-se no terceiro e quarto percursos do projecto de Rota da Seda que, assentando essencialmente em troços marítimos, convergem em Djibuti, onde Pequim tem a sua única base militar em solo estrangeiro. Daí entra no Mar Vermelho em direcção ao Golfo de Aqaba e ao Canal do Suez, podendo ramificar-se através da Jordânia, Israel, e Egipto, porta de acesso à Europa. O primeiro destino europeu será o porto do Pireu, em Atenas, cuja maioria do capital está já em poder da empresa pública chinesa COSCO – China Ocean Shipping Group. Através das suas empresas públicas portuárias, de navegação e logística Pequim tem vindo também a adquirir posições no porto de Antuérpia e um terminal do porto de Ambarli, em Istambul, onde possui igualmente posição dominante.
O quarto percurso previsto da moderna Rota da Seda inicia-se em Fuzhu, em frente à ilha de Taiwan, segue para Guangzhu, Hanói, Singapura – com ramificações para Jacarta e Kuala Lumpur, prosseguindo para Colombo, no Sri Lanka, e Djibuti, antes de entrar no Mar Vermelho pelo Golfo de Aden.
Implicações em cadeia
As posições chinesas dominantes nos portos israelitas de Haifa e Ashdod têm implicações regionais e geoestratégicas que impõem avaliações integrando novas perspectivas.
A China, por exemplo, desenvolve relações especiais com o movimento Hamas palestiniano, que tem uma representação em Pequim, e com o partido libanês Hezbollah, a quem fornece mísseis.
Eventuais ataques dos dois grupos contra Israel, que poderão acontecer se o exército israelita atacar Gaza ou o Líbano, correm o risco de atingir interesses chineses a partir do momento em que as concessões portuárias entrem em vigor.

fechar
goto top