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NATO AMEAÇA VENEZUELA A PRETEXTO DO CORONAVÍRUS

O navio anfíbio de assalto francês Dixmude, enviado para as costas da Venezuela no quadro da NATO

2020-04-10

A NATO decidiu assumir o “combate à crise do coronavírus”. Por exemplo, enviando bombardeiros com capacidade nuclear para sobrevoar o Ártico até aos limites do território russo; e colocando navios de guerra nas costas da Venezuela, com poder de assalto, porque o presidente Maduro “usa a crise do coronavírus” como pretexto para “aumentar o narcotráfico”. O atlantismo move-se, como é evidente, por razões “humanitárias”.

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

Reunidos em videoconferência no dia 2 de Abril, os 30 ministros dos Negócios Estrangeiros da NATO encarregaram o general norte-americano Tod Wolters, comandante supremo aliado na Europa, de “coordenar o apoio militar necessário para combater a crise do coronavírus”. Trata-se do mesmo general que, em 25 de Fevereiro no Senado dos Estados Unidos, declarou que “as forças nucleares sustentam todas as operações militares na Europa” e que ele próprio “defende uma política flexível de primeira utilização” dessas armas, isto é, o ataque nuclear de surpresa.

O general Wolters é o comandante supremo da NATO enquanto chefe do Comando Europeu dos Estados Unidos (EUCOM). Integra a cadeia de comando do Pentágono, que tem prioridade absoluta. Um episódio recente confirma como são rígidas as regras: o capitão do porta-aviões Roosevelt, Brett Crozier, foi demitido pelo seu comando porque, perante a disseminação de coronavírus a bordo, violou o segredo militar solicitando o envio de ajuda.

Para “combater a crise do coronavírus” o general Wolters dispõe de “corredores preferenciais para voos militares através do espaço europeu”, de onde quase desapareceram os voos civis. Os corredores preferenciais são também utilizados pelos bombardeiros norte-americanos B2-Spirit vocacionados para ataques nucleares: em 20 de Março descolaram de Fairford, em Inglaterra, e voaram sobre o Ártico em direcção a território russo escoltados por caças noruegueses F-16. Desta maneira, explica o general Basham das forças aéreas norte-americanas na Europa, “podemos responder rapidamente e com eficácia às ameaças na região, mostrando a nossa determinação em levar o nosso poder de combate a qualquer lugar do mundo”.

O “narcocoronavírus”

Enquanto a NATO se compromete a “combater o coronavírus” na Europa, dois dos mais poderosos aliados europeus, a França e a Grã-Bretanha, enviaram dois navios de guerra para as Caraíbas. O navio de assalto anfíbio Dixmude levantou âncora de Toulon em direcção à Guiana Francesa para realizar o que o presidente Macron definiu como “uma operação militar sem precedentes”, designada Resiliência, no quadro da “guerra contra o coronavírus”. O Dixmude pode desempenhar um papel secundário de navio hospital, com 69 camas, sete das quais para cuidados intensivos. O papel principal deste grande navio com 200 metros de comprimento e uma ponte de voo de cinco mil metros quadrados é o de assalto anfíbio: uma vez nas proximidades de costas inimigas pode atacar com dezenas de helicópteros e veículos de desembarque transportando tropas e veículos blindados. Características idênticas, ainda que em escala mais reduzida, tem o navio britânico RFA Argus, que se fez ao mar em 2 de Abril para a Guiana Britânica.

Os dois navios vão posicionar-se nas mesmas águas caribenhas nas proximidades da Venezuela: é aí que se colocam a frota de guerra – com os mais modernos navios de combate em áreas litorais (construídos também pela empresa italiana Leonardo para a Marinha dos Estados Unidos) – e os milhares de marines enviados pelo presidente Trump oficialmente para bloquear o narcotráfico. Trump acusa o presidente venezuelano Nicolás Maduro de “tirar proveito da crise do coronavírus para aumentar o tráfico de droga através do qual financia o seu narco Estado”. O objectivo desta operação, apoiada pela NATO, é reforçar o embargo para estrangular economicamente a Venezuela (país que tem as maiores reservas petrolíferas do mundo) e onde a situação se agravou por causa do coronavírus que começou a propagar-se.

O objectivo é depor o presidente Maduro, legitimamente eleito (cuja cabeça foi posta a prémio por 15 milhões de dólares), e instaurar um governo que coloque o país na esfera de domínio dos Estados Unidos.

Não está excluída a possibilidade de ser provocado um incidente que sirva de pretexto para a invasão da Venezuela. A crise do coronavírus criou condições internacionais favoráveis a uma operação deste tipo, eventualmente apresentada como “humanitária”


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