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BOMBARDEIROS NUCLEARES DOS EUA COLOCADOS NAS LAJES

Um bombardeiro estratégico B-2 Spirit estacionado nas Lajes

2020-03-22

Em plena pandemia de coronavírus, os Estados Unidos colocaram um número indeterminado dos mais modernos bombardeiros estratégicos “invisíveis” para ataques nucleares, os B-2 Spirit, na Base das Lajes, nos Açores. Os meios de agressão irão realizar “voos de treino” e de “integração no teatro de operações” europeu e estão em solo português desde 9 de Março, informa o Comando Europeu dos Estados Unidos (EUCOM). Quer isto dizer que o Pentágono reforçou a guerra aérea na Europa com os meios mais sofisticados enquanto anunciava uma redução indeterminada do número de soldados envolvidos nos jogos de guerra Defender Europe 20.

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

Devido à pandemia de coronavírus (COVID-19), a American Airlines e outras companhias aéreas dos Estados Unidos cancelaram muitos voos para a Europa. No entanto, existe uma “companhia” norte-americana que, pelo contrário, aumentou o seu número: A Força Aérea dos Estados Unidos (US Air Force).

Há poucos dias, a US Air Force “instalou na Europa uma task force de bombardeiros furtivos B-2 Spirit”, anunciou em Estugarda, Alemanha, o Comando Europeu Norte-Americano (EUCOM). Uma entidade que está actualmente sob as ordens do general Tod Wolters, é simultaneamente chefe das forças armadas da NATO como Comandante Supremo Aliado na Europa. 

O EUCOM informa que a task force, constituída por um número desconhecido de bombardeiros oriundos da base de Whiteman, no Missouri, “chegou em 9 de Março à Base das Lajes nos Açores, em Portugal”.

O bombardeiro estratégico B-2 Spirit é o avião mais caro do mundo, avaliado em mais de dois mil milhões de dólares por unidade; é também, e sobretudo, o avião norte-americano mais avançado para ataques nucleares. Cada aparelho pode transportar 16 bombas termonucleares B-61 ou B-83, com uma potência máxima total equivalente a mais de 1200 bombas de Hiroxima. Devido à sua forma, revestimento e contramedidas electrónicas, o B-2 Spirit é difícil de detectar por radar (por esse motivo se designa como um “avião furtivo” ou “invisível”). Embora já tenha sido utilizado em situação de guerra, por exemplo contra a Líbia em 2011, neste caso transportando bombas não nucleares de alta potência orientadas por satélite (tem capacidade para 80), foi projectado para penetrar nas defesas inimigas e efectuar um ataque nuclear de surpresa.

Toda a Europa, toda a Rússia

Estes bombardeiros, especifica o EUCOM, “irão operar a partir de várias instalações militares na área de responsabilidade do Comando Europeu dos Estados Unidos”. Esta área inclui toda a região europeia e toda a Rússia (incluindo a parte asiática). Isto significa que os bombardeiros norte-americanos mais avançados para ataques nucleares irão actuar a partir das bases na Europa perto da Rússia. Invertendo o cenário, é como se os bombardeiros russos mais avançados para ataques nucleares estivessem a manobrar a partir de bases em Cuba, na vizinhança dos Estados Unidos.

Torna-se claro o objectivo pretendido por Washington: aumentar a tensão com a Rússia usando a Europa como primeira linha do confronto. O que permite a Washington fortalecer a liderança sobre os aliados europeus e orientar a política externa e militar da União Europeia, na qual 22 dos 27 membros pertencem à NATO, sob comando dos Estados Unidos.

COVID-19 ajuda

Esta estratégia é facilitada pela crise causada pelo coronavírus. Hoje, mais do que nunca, numa Europa em grande parte paralisada pelo vírus, os Estados Unidos podem fazer o que querem. 

Esta situação é confirmada pelo facto de os Estados Unidos transferirem os seus bombardeiros mais avançados para ataques nucleares com o consentimento de todos os governos e parlamentos europeus e da própria União Europeia - e sob silêncio cúmplice de todos os principais meios de comunicação europeus.

O mesmo silêncio caiu sobre os exercícios Defender Europe 20, previstos como a maior deslocação de forças militares norte-americanas na Europa desde o fim da guerra fria, sobre os quais alguma comunicação social só falou quando o EUCOM anunciou que, devido ao Coronavírus, reduzirá os soldados norte-americanos que participam no exercício de 30 mil para um número indeterminado, mantendo, no entanto, os “nossos objectivos mais prioritários”.

No âmbito de uma verdadeira psy-op (operação psicológica militar), vários órgãos de “informação”, também em Itália, pronunciaram-se imediatamente contra “as mentiras sobre o exercício Defender Europe” (La Repubblica, 13 de Março); e, através das redes sociais, espalhou-se o boato de que o exercício fora praticamente cancelado. Notícias tranquilizadoras, reforçadas pela garantia, dada pelo EUCOM, de que “a nossa preocupação primordial é proteger a saúde das nossas forças e a das forças dos nossos aliados”.

Apenas substituindo, na Europa, um número indeterminado de soldados norte-americanos por um número desconhecido de bombardeiros norte-americanos de ataque nuclear, cada um com uma potência destruidora igual a mais de 1200 bombas de Hiroxima.


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