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ALGUMAS FICÇÕES DA “LUTA CONTRA O TERRORISMO”

Uma coligação de muitas ficções sobre os seus méritos e actividades

2019-11-21

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

Mesmo com o Daesh/Isis/Estado Islâmico visivelmente enfraquecido, graças à acção conjunta das tropas sírias e russas, a chamada “Coligação Antiterrorista”, patrocinada pela NATO, continua plenamente em funções, certamente no âmbito da famosa “guerra contra o terrorismo”. Uma guerra assente em muitas ficções e cujos objectivos reais não coincidem com o discurso oficial.

A chamada Coligação Antiterrorista reuniu-se no dia 14 de Novembro em Washington, a pedido expresso da França, que se sentiu ultrapassada pela mudança de posição norte-americana na Síria. A reunião não alterou em nada o jogo dos Estados Unidos e seus aliados, mas permitiu ao secretário de Estado, Michael Pompeo, remeter os franceses ao seu lugar de simples executantes.

O caso italiano

Ao acolher em Roma cinco militares feridos no Iraque, o ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Luigi Di Maio, declarou que “o Estado italiano jamais recuará um centímetro face à ameaça terrorista e reagirá com todas as suas forças perante os que semeiam o terror”. A seguir voou para Washington, onde participou na reunião do grupo restrito da “Coligação Global contra o Daesh” (Isis ou Estado Islâmico) de que fazem parte, sob comando dos Estados Unidos, a Turquia, a Arábia Saudita, o Qatar, a Jordânia e outros países que apoiaram o Daesh/Isis e formações terroristas análogas fornecendo-lhes armas e facultando-lhes treino, como está amplamente documentado.

A Coligação – de que fazem parte a NATO, a União Europeia, a Liga Árabe, a Comunidade dos Estados do Sahel/Sahara e a Interpol, além de 76 Estados – reivindica no seu comunicado de 14 de Novembro que “libertou o Iraque e o Nordeste da Síria do controlo do Daesh/Isis”, embora seja evidente que as forças da Coligação deixaram voluntariamente as mãos livres ao Daesh/Isis.

Cobertura “humanitária” para a desestabilização

Esta formação terrorista e algumas outras foram derrotadas apenas quando a Rússia interveio militarmente apoiando as forças governamentais síria. A Coligação reivindica, por outro lado, ter “fornecido 20 mil milhões de dólares de assistência humanitária e para a estabilização dos povos iraquiano e sírio, além de ter treinado e equipado mais de 220 mil membros de forças de segurança para estabilizar as comunidades locais”. O objectivo desta “assistência” é, na realidade, não a estabilização mas a continuação da desestabilização no Iraque e na Síria dando apoio instrumental sobretudo às diversas componentes do independentismo curdo para desagregar estes Estados nacionais, controlar os seus territórios e as suas reservas energéticas.

No quadro desta estratégia, a Itália, definida como “um dos maiores contribuintes da Coligação”, empenhou-se no Iraque principalmente no treino das “forças de segurança curdas” (Peshmerga), designadamente na utilização de armas anti-tanque, morteiros, artilharia e de armas de precisão em cursos especiais para atiradores de elite. Actualmente operam no Iraque cerca de 1100 militares italianos, divididos em vários destacamentos em locais diferentes, dotados com mais de 300 veículos terrestres e 12 aéreos, operações com uma despesa avaliada em 166 milhões de euros em 2019.

Financiadores e também “opositores” do terrorismo

Ao lado deste contingente que está no Iraque encontra-se uma componente aérea italiana no Koweit, com quatro caças-bombardeiros Typhoon, três drones Predator e um avião cisterna para abastecimento em vôo. Segundo todas as probabilidades, as forças especiais italianas, às quais pertencem os cinco feridos recebidos por Di Maio, participam em acções de combate, apesar de a sua missão oficial ser apenas de treino. A utilização de forças especiais é em si mesma um segredo. E tornou-se agora ainda mais secreta uma vez que o seu comando, o Comfose, foi transferido do quartel de Folgore para Pisa, passando a funcionar na área limítrofe da base de Camp Darby, o maior arsenal norte-americano no exterior da mãe-pátria, onde decorrem também actividades de treino.

A Itália tem ainda outra missão na Coligação, que é a de codirigir o “grupo financeiro de oposição ao Daesh” juntamente com os Estados Unidos e a Arábia Saudita. Isto é, países que financiaram e organizaram o armamento das forças do Isis e de outras formações terroristas.

Além de todos estes méritos, o ministro dos Negócios Estrangeiros Di Maio apresentou em Washington a proposta, imediatamente aceite, de que seja a Itália a acolher a reunião plenária da Coligação em 2020. A Itália terá assim a honra de acolher infatigáveis opositores do terrorismo como a Arábia Saudita que, depois de ter financiado o Daesh, gasta agora os seus petrodólares para financiar a sua guerra terrorista contra o Iémen.




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