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CHINA E RÚSSIA AGREGAM OS SEUS PROJECTOS INTERNACIONAIS

Xi Jinping e Vladimir Putin trocando projectos assinados em São Petersburgo

2019-06-11

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

O Fórum Económico Internacional de São Petersburgo desvendou a construção a grande velocidade do “Partenariado da Eurásia Alargada” evocado pelo presidente russo, Vladimir Putin, no Fórum de Valdai, em 2016, e anunciado pelo ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, na Assembleia Geral das Nações Unidas, em 2018. A partir de agora, os projectos chinês de “Rota Seda” – Iniciativa Cintura e Rota – e russo da rede de comunicação da “União Económica Eurasiática” vão desenvolver-se em conjunto.

Os projectores mediáticos viraram-se, no dia 5 de Junho de 2019, para o presidente Trump e os dirigentes europeus da NATO que, a pretexto do aniversário do Dia D, autocelebraram em Portsmouth “a paz, liberdade e democracia asseguradas na Europa”, comprometendo-se “a defendê-las a cada momento em que sejam ameaçadas”. A referência à Rússia é clara.

Os grandes media, pelo contrário, ignoraram ou relegaram para segundo plano, por vezes em tom sarcástico, a cimeira que no mesmo dia se realizou em Moscovo entre os presidentes da Rússia e da China. Vladimir Putin e Xi Jinping, quase a atingir o seu 30º encontro em seis anos, apresentaram não conceitos retóricos mas uma série de factos.

As trocas entre os dois países, que ultrapassaram no ano passado os 100 mil milhões de dólares, estão a crescer com cerca de 30 novos projectos chineses de investimento na Rússia, designadamente no sector energético, num total de 22 mil milhões de dólares.

A Rússia tornou-se o maior exportador de petróleo para a China e está prestes a sê-lo também em gás natural: em Dezembro entrará em funcionamento o grande gasoduto oriental, ao qual irá juntar-se um outro a partir da Sibéria, mais dois poderosos meios de exportação de gás natural liquefeito.

Sanções económicas contornadas

O plano norte-americano de isolar a Rússia através de sanções, seguidas também pela União Europeia, e do corte das exportações energéticas russas para a Europa vai sendo, deste modo, aplicado em vão.

A cooperação russo-chinesa não se limita ao sector energético. Foram lançados projectos conjuntos nos domínios aeroespacial e outros sectores de alta tecnologia. Estão prestes a ser aumentadas em capacidade as vias de comunicação ferroviárias, rodoviárias, fluviais e marítimas entre os dois países. Forte subida registam também os intercâmbios culturais e os fluxos turísticos.

Cooperação em todos os azimutes, cuja visão estratégica emerge de duas decisões anunciadas no fim do encontro: a assinatura de um acordo intergovernamental para ampliar a utilização das moedas nacionais, o rublo e o yuan, nas trocas comerciais e nas transacções financeiras, como alternativa ao dólar ainda dominante; e a intensificação dos esforços para integrar a Nova Rota da Seda, promovida pela China, e a União Económica Eurasiática, promovida pela Rússia, com “o objectivo de formar no futuro um maior partenariado eurasiático”.

Que esta visão não é simplesmente económica confirma-o a declaração conjunta sobre a estabilidade estratégica mundial assinada durante o encontro. A Rússia e a China têm “posições idênticas ou muito próximas”, de facto contrárias à dos Estados Unidos/NATO, em relação à Síria, ao Irão, à Venezuela e à Coreia do Norte.

As duas potências advertem: a retirada dos Estados Unidos do Tratado INF (com o objectivo de instalar mísseis nucleares de médio alcance à beira da Rússia e também da China) pode acelerar a corrida aos armamentos e aumentar a possibilidade de um conflito nuclear. Denunciam também a decisão norte-americana de não ratificar a proibição total dos testes nucleares.

Na declaração conjunta, a Rússia e a China consideram “irresponsável” o facto de certos Estados, ainda que tendo aderido ao Tratado de Não-Proliferação, desenvolverem “missões nucleares conjuntas”; e pedem-lhes “o regresso aos territórios nacionais de todas as armas nucleares instaladas fora das suas fronteiras”.

Um pedido que diz directamente respeito à Itália e outros países europeus onde, violando o Tratado de Não-Proliferação, os Estados Unidos instalaram armas nucleares utilizáveis também pelos países hospedeiros sob comando dos Estados Unidos: as bombas nucleares B-61, que serão substituídas, a partir de 2020, pelas ainda mais perigosas B61-12.

Disto não falou a grande media, que em 5 de Junho estava entretida a descrever as esplêndidas toilettes da primeira-dama Melania Trump nas cerimónias do Dia D.


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