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ATAQUE QUÍMICO A SÉRIO COBERTO PELO SILÊNCIO

Vítimas do ataque químico em Alepo socorridas num hospital local

2018-11-29

Edward Barnes, Damasco

O ataque químico realizado por grupos filiados na al-Qaida no domingo, 25 de Novembro, contra a região de Alepo foi recebido com indiferença pela comunicação social e pelo Conselho de Segurança da ONU, que habitualmente dão credibilidade dramática e sensacionalista às encenações montadas pelos chamados “Capacetes Brancos”. Por outro lado, existem sinais de que estes passaram das encenações às agressões.

Mais de 70 pessoas tiveram de receber assistência hospitalar devido aos efeitos de produtos químicos, provavelmente cloro, usados nas munições do ataque realizado pelo grupo terrorista Tharir al-Sham (frente al-Nusra, al-Qaida) contra os bairros de al-Khalidiya e Al-Zahara, na cidade de Alepo, a segunda mais importante da Síria. As vítimas foram assistidas devido a problemas de respiração e visão, que os médicos consideraram resultantes dos efeitos de produtos químicos gasosos.
A comunicação social dominante não deu a este ataque contra civis o mesmo destaque de âmbito global que dá habitualmente às falsas operações com armas químicas montadas para acusar Damasco. As diferenças na cobertura mediática revelam uma tendência claramente favorável aos grupos terroristas na abordagem dos factos relacionados com a agressão à Síria, inapropriadamente qualificada como uma “guerra civil”.
Na operação foram utilizados mísseis e morteiros equipados com produtos químicos. Segundo jornais árabes, os “Capacetes Brancos”, um grupo de “defesa civil” dirigido pelos serviços secretos britânicos MI6, terão sido os responsáveis pela preparação dos engenhos.
Se esta informação se confirmar significa que os “Capacetes Brancos” mudaram de tática – ainda que ocasionalmente – e patrocinaram um ataque utilizando os produtos químicos que têm vindo a concentrar em algumas regiões de Síria, mais recentemente em Idleb, ainda cercada pelas tropas governamentais.
Entre as reacções aos acontecimentos, registe-se a moderação assumida desta feita pelo presidente de França, ao limitar-se a recomendar que o assunto deve ser entregue à Organização para a Proibição de Armas Químicas.

Da encenação ao ataque

O ataque foi realizado por forças do Tharir al-Sham a partir do corredor desmilitarizado definido na região de Alepo, o que significa que as tropas turcas, responsáveis pelo seu controlo – segundo acordo estabelecido para o efeito –, falharam no cumprimento do seu papel.
Os “Capacetes Brancos” têm-se destacado pela montagem de falsos ataques químicos, designadamente em Ghuta Oriental, que depois atribuem às tropas regulares sírias. E de maneira a que tenham grande eco nos principais meios de comunicação social mundiais, como via para a multiplicação de acusações contra o regime do “carniceiro” de Damasco – o que, regra geral, acontece. As actividades dos “Capacetes Brancos” – identificados com grupos terroristas como a al-Qaida e o Estado Islâmico, além de dirigidos por um membro do MI6 britânico - valeram-lhes já a atribuição de um Oscar de Hollywood.
Ultimamente, as tentativas e mesmo a montagem de encenações em vários locais, a cargo de uma empresa britânica de comunicação, têm sido denunciadas e desmontadas com antecedência, expondo a estratégia terrorista de propaganda e intimidação, o que tem anulado os efeitos pretendidos com as manobras. O ataque contra a região de Alepo é uma variante do comportamento habitual dos “Capacetes Brancos” – embora sempre no registo de utilização de produtos químicos, vedados pelas convenções internacionais.

Mais preparativos

As populações de várias regiões da Síria deram conta, entretanto, de mais movimentos de contentores de armas químicas efectuados por organizações terroristas, sobretudo o Tharir al-Sham e alguns dos seus braços locais.
Os movimentos mais significativos ocorreram no distrito de Idleb, onde as forças sírias e aliadas continuam a preparar uma grande ofensiva. De notar que os Estados Unidos insistem em formular ameaças segundo as quais reforçarão as suas agressões militares no caso de a Síria tentar libertar o distrito das organizações terroristas que fustigam as populações. De tal maneira que na passada terça-feira se registou um princípio de levantamento popular contra os mercenários da al-Qaida.
Mais de 50 mísseis equipados com produtos químicos foram detectados em Ajnad al-Qaqaz, na região de Tal Sultan, mas também em Jash al-Izza, Kfar Zita e perto da cidade de Nurek, locais da parte norte de Hama.
O Ministério sírio dos Negócios estrangeiros declarou que esta disponibilidade de armas químicas nas mãos dos grupos de mercenários só é possível devido ao continuado abastecimento de armamento por países da chamada “coligação internacional”.
As tropas regulares sírias descobrem, quase diariamente, depósitos de armas e munições fabricadas por países ocidentais em regiões que foram libertadas da presença de grupos terroristas.
As descobertas mais recentes aconteceram durante operações de limpeza nas áreas de Ghuta Oriental, em Daraa e Quneitra, no sul do país, e nas províncias centrais de Homs e Hama. Foram encontradas armas e munições, designadamente mísseis TOW e outros engenhos anti-tanque, canhões e morteiros de vários tipos, metralhadoras e espingardas de precisão e instrumentos de visão nocturna, todos de fabrico norte-americano e de outras origens ocidentais.
Na terça-feira, 27, fontes do exército sírio, relataram a passagem de camiões norte-americanos carregados com armamento através da fronteira iraquiana, em Simalka, em direcção a Hasaka. O material destinar-se-ia, presumivelmente, às chamadas Forças de Defesa Sírias (FDS), grupo de maioria curda formado pelos Estados Unidos e que é combatido também pela Turquia. Esta situação é insólita, pois tem gerado combates directos entre tropas de países membros da NATO.

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