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Parecia saído de um thriller orientalista romântico passado nos Himalaias: soldados a lutar com pedras e barras de ferro pela calada da noite, à beira de um precipício a mais de quatro mil metros de altitude, alguns deles mergulhando para a morte num rio quase congelado e morrendo de hipotermia.
Por muito que se especule noutros sentidos, a questão energética e as rotas de abastecimento de petróleo e gás natural continuam a talhar as coisas do mundo. E permanecem essenciais no pós-Lockdown ou o falado “novo normal”. Pelo que as guerras dos pipelines continuam activas: aí, entre destroços de vários projectos, estão no caminho do êxito pleno os que materializam a cada vez mais forte parceria estratégica entre a Rússia e a China e também os laços que, para desespero de Washington, canalizam energia russa para dois relevantes membros da NATO – Alemanha e Turquia.
Tomar o aeroporto de Caracas, capturar o presidente Nicolás Maduro com o objectivo de o enviar para os Estados Unidos – ou matá-lo, em alternativa – era o objectivo principal da operação terrorista de 3 de Maio contra a Venezuela, de acordo com as confissões dos mercenários – entre eles dois ex-membros das forças especiais dos Estados Unidos – capturados na ocasião. A acção está expressa como “objectivo principal” no contrato estabelecido entre o chefe fascista Juan Guaidó, auto-intitulado “presidente interino”, e a empresa de mercenários Silvercorp, da Florida, igualmente prestadora de serviços ao actual presidente dos Estados Unidos. Conheça os meandros do contrato e os métodos de gestão pretendidos por Guaidó, o “presidente” da Venezuela reconhecido por numerosos países da União Europeia, entre os quais o governo da República Portuguesa.
Quem acompanha os acontecimentos na Líbia através dos media corporativos poderá ser levado a pensar que a guerra entre os governos de Benghazi e Tripoli, cada um deles apoiado pela sua parte de governos estrangeiros sedentos das reservas de petróleo do país, surgiu agora de uma banal luta pelo poder. Uma cuidada conspiração do silêncio gerida pela comunicação social dominante, escudada na memória tradicionalmente curta dos seus consumidores, faz com que assim seja. No entanto, o caos reinante e onde avultam muitos a rentáveis tráficos escabrosos, entre eles o de escravos, foi gerado por uma coligação militar da NATO com terroristas islâmicos das famílias al-Qaida e Estado Islâmico. Ao contrário do jornalismo/propaganda, a História cultiva a memória.
Em Março, cerca de 7500 efectivos de combate norte-americanos viajam para a Noruega, onde se juntarão a milhares de soldados de outros países da NATO numa imensa batalha simulada contra forças “invasoras” russas. Neste empenhamento com carácter futurista – que tem o nome de Cold Response (Resposta Fria) 2020 – as forças aliadas “realizarão exercícios multinacionais conjuntos num cenário de combate de alta intensidade em exigentes condições de Inverno”, explicam os militares noruegueses. À primeira vista parece ser mais um dos jogos de guerra da NATO mas, pensando melhor, o Cold Response 2020 nada tem de comum. Em primeiro lugar, é encenado acima do Círculo Polar Ártico, longe de qualquer anterior campo de batalha tradicional da NATO; e eleva para um novo nível a possibilidade de um conflito de grandes dimensões que pode terminar num confronto nuclear e na aniquilação mútua. Bem-vindos, por outras palavras, ao mais novo campo de batalha da Terceira Guerra Mundial.
Setenta e cinco anos depois da Segunda Guerra Mundial, a Alemanha pretende voltar a ser uma potência na cena internacional. Escolheu o Médio Oriente para fazer esse regresso. Mas é difícil e perigoso elevar-se a este nível sem qualquer outra experiência que não seja a histórica.
Estimado leitor, se lhe disserem que os Estados Unidos são autossuficientes em hidrocarbonetos e não precisam do petróleo do Médio Oriente, não acredite. A guerra sem fim montada pelo Pentágono através de toda a região e algumas extensões geográficas tem a ver com fontes de energia, o controlo das suas reservas, produção e distribuição. Portanto, o que tem acontecido nas últimas semanas, por exemplo a simultaneidade da desestabilização do Iraque e do Irão e a nova fase da guerra na Líbia tem, e muito, a ver com isso.
Independentemente das questões propriamente iranianas, os Estados Unidos estão inquietos com as relações que Teerão mantém com a China. Passo-a-passo, mas progressivamente, Pequim apoia-se no Irão para concretizar na Ásia o seu gigantesco projecto Iniciativa Cintura e Estrada (ICE) ou Nova Rota da Seda.
O separatismo na região autónoma chinesa de Xinjiang e a “libertação do povo uigure surgem nos menus ocidentais para “democratizar” a China, mas a realidade nada tem a ver com as intenções proclamadas e a verdadeira situação no território. Além de Xinjiang ter dado o salto do feudalismo para a modernidade em algumas décadas, a região desempenha um papel fulcral nas acções chinesas de internacionalização. Daí que os Estados Unidos e aliados não tenham hesitado em criar e manipular grupos terroristas “uigures” da família da al-Qaida que tanto estão activos internamente como podem ser exportados temporariamente, como aconteceu na guerra contra a Síria.
A herança caótica deixada pela agressão da NATO contra a Líbia e que se aprofunda há quase nove anos está a degenerar numa situação aterradora de guerras cruzadas, motivadas por múltiplos interesses, capaz de fazer explodir alianças político-militares, afinidades religiosas e relações institucionais - com repercussões em todo o panorama internacional. O início, no dia de Natal, da transferência de terroristas da al-Qaida da Síria para território líbio, de modo a reforçar as forças do governo de Tripoli reconhecido pela ONU e a União Europeia, é apenas um dos muitos movimentos em curso na sombra dos holofotes mediáticos. E a Turquia acaba de aprovar o envio de tropas regulares para a Líbia.
Em novo e desesperado gesto para obrigar os europeus a consumir gás natural norte-americano, a preços muito mais elevados que o importado da Rússia, os Estados Unidos decidiram impor sanções contra as empresas europeias que participam na construção do gasoduto Nord Stream 2. Prestes a ser concluída, a obra enfrenta novo e dispendioso obstáculo que distorce grosseiramente a tão enobrecida “economia de mercado”. Mas como as sanções atingem interesses alemães e a própria economia da Alemanha existe alguma expectativa em saber como irá a União Europeia reagir a mais esta agressão dos aliados do outro lado do Atlântico.
Sucedem-se as cimeiras climáticas, multiplicam-se as promessas para atingir metas de curto, médio e longo prazo, transformaram-se as questões ambientais em artigos da moda política e mediática e o aquecimento global continua a sua ascensão sem retorno. No centro de toda a novíssima inquietação ecológica estão as elites políticas, governamentais e, sobretudo, empresariais que colocaram o mundo no caminho da catástrofe. Isto é, os que estragam o planeta são os mesmos que cuidam agora de consertá-lo com base em enxurradas de promessas, mas sem mudar de atitudes e comportamentos. Ou seja, a tão propagandeada “economia verde” não passa de uma grande ilusão, melhor dizendo, uma imensa fraude.
O reforço da Informação Independente como antídoto para a propaganda global.
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