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ABSURDO À SOLTA: COMO ESCAPAR À COVID EM CASO DE ATAQUE NUCLEAR

2020-12-20

Uma agência governamental norte-americana publicou uma série de instruções aos cidadãos sobre como se protegerem da COVID-19 em caso de ataque nuclear, não dispensando sequer as máscaras, o gel e o distanciamento social nos abrigos. Como se as consequências de um ataque nuclear fossem geríveis num cenário de normalidade. Não se trata apenas de uma iniciativa absurda: pretende criar a sensação de que a guerra nuclear é compatível com a vida quotidiana, sobressaltada apenas por algumas emergências. Uma estratégia de propaganda cada vez mais dominante e perigosa.

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

A administração norte-americana tenta fazer esquecer o que é na verdade uma explosão nuclear difundindo instruções sobre o que fazer para se proteger da COVID-19 numa situação desse tipo. Infelizmente, as radiações resultantes matarão, num máximo de duas semanas, todas as pessoas por elas atingidas, sofram ou não de COVID-19.

A Agência Federal dos Estados Unidos para a Gestão de Emergências (FEMA), dependente do governo de Washington, actualizou as instruções à população sobre os comportamentos a adoptar em caso de ataque nuclear. As novas instruções têm em conta a COVID-19, os confinamentos associados ao combate à pandemia e as normas a respeitar para se proteger do vírus.

Para estarem preparadas quando ouvirem o alarme de um ataque nuclear iminente – previne a FEMA – as pessoas devem ter a consciência de que, “por causa da COVID-19, numerosos locais por onde passam para ir trabalhar e regressar podem estar fechados ou não ter horários regulares de abertura”. Por isso, as pessoas devem identificar, antes de mais, todos “os melhores lugares susceptíveis de abrigo, que são as caves e os andares médios dos prédios”.

Nestas instruções, a FEMA ignora quais são os efeitos reais (cientificamente comprovados) de uma explosão nuclear. Mesmo que as pessoas em fuga tenham condições suficientes para encontrar um abrigo que não esteja submetido a confinamento decorrente da COVID-19, elas não terão, ainda assim, qualquer possibilidade de êxito. A deslocação do ar da explosão, com ventos de 800 quilómetros por hora, provoca o desabamento ou mesmo a própria explosão dos edifícios mais sólidos. O calor, capaz de fundir aço, fará explodir o betão armado. Mesmo as pessoas que tenham descoberto “os melhores locais para ficarem ao abrigo da explosão” serão vaporizadas, esmagadas, carbonizadas.

“Mantenha a distância social…”

Os efeitos destruidores de uma bomba nuclear de uma megatonelada (equivalente ao poder explosivo de um milhão de toneladas de trítio) expande-se em círculos numa distância até cerca de 14 quilómetros. Se a bomba for de 20 megatoneladas, os efeitos destruidores estender-se-ão num raio superior a 60 quilómetros.

Num cenário destes, a FEMA parece preocupada em proteger as pessoas com COVID-19. Quando o ataque nuclear for lançado, previne, “informem-se junto das autoridades locais sobre os refúgios que estão abertos, uma vez que podem ter sido alterados por causa da COVID-19”; no momento da evacuação, “para se proteger, e à sua família, da COVID-19, deverá munir-se de duas máscaras por pessoa e de um gel hidro-alcoólico para as mãos contendo pelo menos 60% de álcool”; no interior do refúgio, “continue a praticar o distanciamento social, coloque a máscara e guarde uma distância de seis pés (quase dois metros) das pessoas que não façam parte da sua família”.

Este cenário pressupõe que em caso de alarme nuclear os 330 milhões de cidadãos norte-americanos mantenham a calma, se informem de que refúgios estão abertos e se preocupem, antes de mais, em proteger-se da COVID-19 equipando-se com máscaras, gel desinfectante e, uma vez chegados aos refúgios, respeitando o distanciamento social. Isto fará com que num abrigo para mil pessoas apenas possam entrar 200, ficando as restantes no exterior.

Admitindo, por absurdo, que as pessoas sigam as instruções da FEMA para se protegerem da COVID-19, de qualquer maneira elas ficarão expostas à contaminação radioactiva numa área bastante mais vasta que a destruída pelas explosões nucleares. Um número crescente de pessoas, aparentemente não atingidas, começarão a apresentar sintomas da síndrome das radiações. Para elas não existe actualmente qualquer tratamento, pelo que se trata de uma circunstância fatal.

Se as radiações atingirem o sistema nervoso, provocarão letargia e fortes dores de cabeça, depois um estado de coma acompanhado por convulsões e a morte chegará em 48 horas. Em caso de síndrome gastrointestinal provocado pelas radiações, a vítima será atingida por vómitos, diarreia hemorrágica, juntamente com febres altas; a morte chegará dentro de uma a duas semanas.

Neste cenário, a FEMA preocupa-se também com o estado mental das pessoas. E previne: “a ameaça de uma explosão nuclear pode provocar um acréscimo de stress em numerosas pessoas que actualmente sofrem já de medo e angústia por causa da COVID-19”. Por isso, recomenda ainda que se sigam as instruções sobre o modo de “gerir o stress durante um acontecimento traumático”. O que parte do princípio que, em caso de ataque nuclear, os cidadãos dos Estados Unidos serão assistidos por psicólogos que, enquanto explodem bombas nucleares, lhes ensinam a gerir o stress persuadindo-os de que, graças à FEMA, escaparam à COVID.


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