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GUAIDÓ EM PLANO PARA ASSASSINAR MADURO

Ex-general Clíver Alcalá Cordones denunciou o golpe por sentir-se traído

2020-03-27

Michele de Mello, America Latina en Movimiento/O Lado Oculto

Na quinta-feira, dia 26 de Março, o ex-major-general das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) Clíver Alcalá Cordones deu uma entrevista e publicou uma série de vídeos na sua página na rede social Twitter revelando um plano de assassínio contra o presidente Nicolás Maduro elaborado por ele juntamente com o deputado opositor Juan Guaidó e assessores do governo dos Estados Unidos. 

Alcalá, opositor ao chavismo desde 2013, é um dos 13 cidadãos venezuelanos acusados pelo procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, de supostos crimes de narcotráfico, lavagem de dinheiro e tráfico de armas. A denúncia foi apresentada na quinta-feira (26) ao Departamento de Justiça norte-americano e incluiu, no mesmo texto, nomes de várias autoridades do governo bolivariano, como o presidente Nicolás Maduro, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Diosdado Cabello, e o presidente do Supremo Tribunal de Justiça, Maikel Moreno.

Apesar de não apresentar provas, o Departamento de Estado dos Estados Unidos oferece uma recompensa de 10 milhões de dólares pela captura de Clíver Alcalá, Diosdado Cabello, Hugo Carvajal, ex-diretor de inteligência das FANB, e Tarek El Aisami, vice-presidente da Venezuela para o sector da Economia.   

Numa transmissão em cadeia nacional na noite de quinta-feira, Maduro negou as acusações. "Quem sai prejudicado nesta situação é o próprio governo de Donald Trump. Temos 15 anos de história de combate ao narcotráfico desde que expulsámos a DEA [Departamento Antidrogas dos EUA] daqui". 

Plano golpista

Na quarta-feira, dia 25, o governo venezuelano havia denunciado a detenção de um veículo com 26 espingardas AR-15, de fabrico norte-americano e sem número de série, 28 visores nocturnos e silenciadores. Armas que, somadas, custam cerca de 500 mil dólares e foram encontradas numa camioneta na estrada que liga Barranquilha a Santa Marta, na Colômbia.

O condutor do veículo confirmou que transportava o armamento de Barranquilla para a cidade de Riohacha, localizada a cerca de 80 quilómetros da fronteira com a Venezuela. As armas seriam entregues a “Pantera”, como é chamado Robert Colina Ibarra, suposto líder de um dos acampamentos de treino paramilitar onde um genro de Cliver Alcalá Cordones estaria a receber treino para o atentado contra Maduro. 

Segundo o vice-presidente para a Comunicação, Turismo e Informação da Venezuela, Jorge Rodríguez, grupos paramilitares são treinados em território colombiano. A inteligência venezuelana já havia identificado, através de drones, no ano passado, a existência de pelo menos três acampamentos de treino paramilitar na Colômbia.

Durante uma entrevista à W Rádio, o ex-militar Clíver Alcalá Cordones explicou que a operação estava a ser planeada pela oposição venezuelana, sem participação do governo colombiano. Confessou que coordenava um grupo de 90 oficiais e que participou em sete reuniões com assessores norte-americanos juntamente com a Juan José Rendón Delgado, conhecido como JJ Rendón, empresário venezuelano residente nos Estados Unidos.

Alcalá também confirmou a versão do governo venezuelano sobre as armas confiscadas na Colômbia. "As armas que foram encontradas na Colômbia pertenciam ao povo venezuelano. Tudo isso dentro de um acordo assinado pelo presidente Guaidó, o senhor JJ Rendón, o senhor Vergara. Trabalhamos num plano de liberdade para Venezuela. Acordámos, numa reunião com assessores norte-americanos, eliminar de maneira cirúrgica os criminosos que geraram o desastre no nosso país."

O vice-presidente venezuelano para a Comunicação, Jorge Rodríguez, desconfia da afirmação sobre o desconhecimento dos planos por parte do presidente colombiano, Iván Duque. Segundo Rodríguez, a Venezuela já denunciou, em mais de uma ocasião, a presença de acampamentos de treino paramilitar com cidadãos venezuelanos em território colombiano.

"Temos informação, com pessoas infiltradas dentro da inteligência colombiana, de que esse tipo de situação acontece com frequência", afirmou o ministro venezuelano.

Traído

Alcalá Cordones disse que decidiu divulgar os planos do atentado depois de receber a notícia de que fora incluído na lista da denúncia do Departamento de Estado norte-americano e por ter recebido informações de que poderia ser alvo de um caso de "bandeira falsa”. "Tínhamos tudo preparado, mas houve infiltrações no seio da oposição. Dessa oposição que quer continuar a conviver com o governo de Nicolás Maduro."

"Porque fracassou? Porque fizemos esses planos fracassar. Esta foi uma vitória da estabilidade e da paz na Venezuela", assegurou Maduro durante uma conferência de imprensa.

O governo venezuelano afirma que há três semanas já tinha identificado três campos de treino paramilitar na cidade de Riohacha e que, há 48 horas, o presidente colombiano, Iván Duque, tinha autorizado uma ordem de prisão para o ex-militar venezuelano Alcalá Cordones por posse ilegal de armas.

Ainda de acordo com o serviço de inteligência militar venezuelano, parte do grupo liderado por Alcalá também participou na tentativa de assassínio contra o presidente Nicolás Maduro, em Agosto de 2018.

Quem é Cliver Alcalá?

Foi major-general do Exército venezuelano durante o governo do ex-presidente Hugo Chávez. Fez parte do primeiro levantamento militar liderado por Chávez, em Fevereiro de 1992. Em 2002, logo depois do fracassado golpe de Estado contra o comandante chavista, chefiou a reforma da Polícia Metropolitana de Caracas, estrutura central do sequestro do então presidente. 

Desligou-se das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas em 2013 e do chavismo a seguir ao falecimento do ex-presidente; em seguida juntou-se à oposição ao governo de Nicolás Maduro. Em 2016 colaborou com o movimento que exigia um referendo revogatório para anular o mandato presidencial de Maduro.

Vive em Barranquilla, Colômbia, há dois anos e foi acusado de narcotráfico em mais do que uma ocasião. 

Processo judicial 

Perante as revelações, o procurador-geral da República da Venezuela, Tareck William Saab, anunciou que o Ministério Público abriu uma investigação contra Juan Guaidó, Clíver Alcalá e outros cidadãos venezuelanos envolvidos no plano golpista.

O chefe de Estado venezuelano, Nicolás Maduro, garantiu que todos os envolvidos serão capturados. "As FANB estão alerta para o combate. Para tudo o que faça falta. Somos de paz, mas somos guerreiros. Há que ser muito miserável para colocar em prática um plano golpista no meio da situação actual. Nós estamos preparados. Se um dia o imperialismo ou a oligarquia colombiana decidirem tocar num fio de cabelo nosso, terão de lidar com a fúria bolivariana", finalizou.


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