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POBREZA E DESIGUALDADE: O REINO UNIDO NA UE

2019-05-25

Norman Wycomb, Londres

Os sucessivos governos neoliberais do Reino Unido desde Margaret Thatcher e a entrada na CEE/União Europeia provocaram um empobrecimento sistemático no Reino Unido e uma degradação dos direitos humanos, reconhece um relatório das Nações Unidas divulgado em 23 de Maio. “É difícil imaginar uma receita melhor planeada para reforçar a desigualdade e a pobreza e minar as perspectivas de vida de muitos milhões” de pessoas, lê-se no documento.

Da autoria do especialista independente da ONU Philip Alston, o relatório afirma que o aumento galopante da pobreza atinge hoje 14 milhões de pessoas, 20% da população, e que “a imposição da austeridade foi um projecto ideológico destinado a reformular radicalmente a relação entre o governo e os cidadãos”. O aprofundamento das políticas austeritárias decorreu, comprovadamente, da aplicação das medidas assumidas no quadro da União Europeia.

O documento é fruto de uma investigação realizada por Philip Alston no Reino Unido. A degradação da situação humana e social no país acelerou-se com a neoliberalização da economia iniciada pelos governos de Margaret Thatcher, continuada por governos conservadores e também trabalhistas, desde que Tony Blair descaracterizou este partido no sentido da aplicação do capitalismo selvagem. O período de profundo agravamento das condições de vida da maioria da população do Reino Unido coincide também com a entrada e presença na Comunidade Económica Europeia, hoje União Europeia. Daí que a saída desta organização, o Brexit, seja uma decisão assumida em referendo pela maioria dos britânicos.

14 milhões na pobreza

O relatório da ONU assinala que “há 14 milhões de pessoas a viver na pobreza, níveis recordes de fome e falta de habitação, queda na esperança de vida de alguns grupos, cada vez menos serviços comunitários e grande redução de policiamento”. 

O documento sublinha ainda que a forma como tem sido discutido o Brexit representa uma trágica manobra de diversão em relação às consequências provocadas pelas políticas sociais e económicas adoptadas também no quadro da União. Entre estas, “a imposição da austeridade foi um projecto ideológico destinado a reformular radicalmente a relação entre o governo e os cidadãos”.

Nos termos do relatório, “os padrões de bem-estar do Reino Unido desceram abruptamente num período de tempo extremamente curto, como resultado de escolhas políticas deliberadas, assumidas quando muitas outras opções estavam disponíveis”. 

Ao mesmo tempo, Philip Alston realça que “o acesso aos tribunais para grupos de baixos rendimentos foi drasticamente reduzido pelos cortes à assistência na Justiça”.

O texto da ONU evidencia a perversidade do conceito oficial “trabalho, não assistência social”. Transmite a “mensagem de que indivíduos e famílias podem procurar a caridade mas deixaram de encontrar no Estado a prestação da rede básica de segurança social com a qual todos os partidos políticos se comprometeram desde 1945”.

Neste sentido, salienta Philip Alston, “é difícil imaginar uma receita melhor planeada para exacerbar a desigualdade e a pobreza e minar as perspectivas de vida de muitos milhões” de pessoas.


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