O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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IMPERIALISMO MANIPULA ORGANIZAÇÕES SECRETAS

Atentado na Praça Fontana, em Milão. Os "anos de chumbo", o terrorismo das seitas secretas, entre elas a Gladio da NATO, para impedir ascensão de comunistas aos governos da Europa Ocidental

2018-12-28

Zillah Branco, especial para O Lado Oculto

A história do sistema capitalista repete-se, nas várias regiões do planeta, em função das
diferenças estruturais entre os países. Dialéticamente produz os anticorpos com que as
nações se defendem da submissão ao imperialismo - a forma superior do capitalismo -
fortalecendo o seu próprio desenvolvimento social e económico e afirmando a soberania
nacional no contexto mundial.

No chamado "terceiro mundo" (quando não havia a preocupação em disfarçar com uma
máscara de desenvolvimento que envolvia a elite nacional como se fosse uma semente a
ser "democratizada" com a "evolução" do povo), o controle imperialista agia
despudoradamente aplicando as decisões tomadas nos países mais ricos, como
imposições às nações que, "por serem pobres", cumpriam obedientes. Viviam como
"colónias" ou "agregados", conforme os termos assinados pelas respectivas elites que
detinham o poder.
Depois de Grande Guerra, pacificada graças à necessária aliança dos países ricos
capitalistas com a URSS - União das Repúblicas Socialistas Soviéticas -
que vencera o exército de Hitler com o apoio do seu povo revolucionário e a força militar
do Exército Vermelho, a linguagem política foi alterada para evitar os preconceitos
utilizados que eternizavam a dependência dos "pobres", ou "subdesenvolvidos", como se
fosse uma fatalidade. Com uma substituição de títulos, o "terceiro mundo" passou a "em
vias de desenvolvimento" e a "democracia" (privilégio da burguesia rica) passou a escoar
esmolas para as classes trabalhadoras, em pílulas cosméticas traduzidas em leis laborais.
A ONU, definida com base nos princípios dos Direitos Humanos e da Igualdade entre
todos os povos, desenvolveu as suas funções no sentido do reconhecimento das lutas
nacionais contra o domínio colonizador e a presença estrangeira impondo medidas aos
governantes subalternos. Com o apoio do sistema socialista, muitos povos puderam
organizar os movimentos de libertação nacional e expulsarem os seus colonizadores,
criando governos autónomos que a ONU reconheceu. O vocabulário político mudou,
sendo banidos os termos "colónia", "subdesenvolvido" e "terceiro mundo", assim como
"imperialismo" (este sendo considerado um "chavão" dos comunistas) e os governantes
dos países ricos viram-se obrigados a apertar as mãos dos seus antigos "colonizados",
como seus iguais, de várias etnias reveladas pelas vestes e pelos idiomas.

Só as palavras mudaram

Porém, a realidade do domínio e opressão continuou.
Mas, a maneira de poder intervir na vida de cada país - que continuava a lutar pela sua
independência e soberania nacional desenvolvendo as suas forças produtivas, que
permaneciam oprimidas nas relações com o mercado externo e as taxas relativas a
transporte, utilização de portos, sistema cambial etc., pertencentes aos países ricos -
tornou-se apenas mais discreta para o imperialismo.
Em 1986, na Europa, foram divulgados os processos jurídicos que se multiplicaram em
Itália, a partir do sequestro e assassinato de Aldo Moro. Desvendaram uma teia
complicadíssima do relacionamento entre forças imperialistas que se introduziram na Loja
Maçónica dos Estados Unidos, na Opus Dei vinculada ao Vaticano e na Máfia Italiana,
manipulando destacados membros de cada uma dessas instituições para penetrar nas
estruturas governativas e impedir qualquer tipo de aliança com forças de esquerda.(1)
Todas essas instituições têm em comum o "secretismo" imposto aos seus membros e
uma função "protectora dos que trabalham pelo bem comum na sociedade". Esta imagem
humanista e generosa reconhecida nas sociedades através dos tempos era o aval de uma
conduta sempre positiva e respeitável, independente das oscilações políticas ocasionais
causadas históricamente. Nada melhor para o imperialismo que utilizar as estruturas
seculares de tais organizações espalhadas pelo mundo, introduzindo através de novos
participantes que transmitiam objectivos de ação política junto a competentes membros
(mediante convencimento ideológico e aporte financeiro) que garantiam o secretismo
mesmo dentro da instituição e escolhiam os executantes contratados para actuarem no
interior da estrutura dos Estados.

Jornalismo com coragem

Escreve o autor:

"Estes textos são sobre política porque as seitas de que aqui se fala (a
maçonaria norte-americana à qual pertencem destacados quadros das empresas
multinacionais, a Logia Propaganda Due P-2 que foi desmantelada em Itália, a tentacular
Opus Dei liderada pelo padre José Maria Escrivá de Balaguer, e a Máfia) foram objecto de
apurados estudos jurídicos em Itália que fundamentaram processos onde foi revelada a
interligação entre elas para forjar caminhos aparentemente legais na prática dos serviços
públicos ou eliminar físicamente os quadros que ousaram opor-se-lhes.
Este trabalho não contém um ataque a instituições como a Igreja Católica ou a Maçonaria.
Limita-se a denunciar as organizações e as pessoas que se aproveitam do prestígio
dessas entidades para tentarem atingir objectivos que nada têm a ver com a religião ou a
procura de uma maior justiça social. O que denuncia é a constituição de um sistema
supra-nacional que as articulou e manipulou com recursos internacionais de uma rede
subversiva secreta.
As seitas secretas inserem-se transversalmente na sociedade, ignorando partidos e
fronteiras. Os interesses aglutinadores são os do grande capital e a imposição de
soluções políticas conservadoras que assegurem o afastamento das forças progressistas
das áreas do poder".

Os Tribunais registaram

Na sequência de inúmeros escândalos financeiros com aparentes vínculos com
assassinatos de personalidades como o dirigente democrata cristão Aldo Moro, em 1978,
e o do juiz Emílio Alessandrini que apurou irregularidades no Banco Ambrosiano, em 1979,
seguido por vários assassinatos de quem investigava as irregularidades de Michele
Sindona, que comprara a Banca Privata Finanziaria em 1964, tornando-a a base de todo o sistema financeiro.
É longa a lista de processos, prisões, assassinatos e falências bancárias que culmina em
Fevereiro de 1986 em Palermo, com o julgamento de 467 réus da Máfia. Em Março
Michele Sindona é condenado à prisão perpétua por envolvimento no assassinato do juiz
Giorgio Ambrosoli, sendo envenenado quatro dias depois com cianeto.
"As seitas de que aqui se fala fazem parte de um todo, são instrumentos mais ou menos
coordenados de um sistema de opressão que, sentindo-se ameaçado, cria exércitos na
sombra, preparados para eventualidades possíveis e prováveis"(...)"Os homens da velha
ordem recorrem a tudo para deter a marcha inexorável do tempo porque sabem não lhes
pertencer o futuro. De tal modo se enredam nas suas próprias teias que os seus enredos
acabam por ser conhecidos", afirma o jornalista de "o diário", Villaverde Cabral.
Entretanto, diante da crise do sistema capitalista, essa forma de manipulação de
instituições que de alguma maneira preservam a sua independência dentro do chamado
Estado de Direito prossegue, como no Chile de Allende com a infiltração nas forças
armadas que executaram o golpe de Pinochet, e agora no Brasil com a manipulação da
Igreja Evangélica Pentecostal, o domínio incontestável do sistema judicial, para não falar
no controlo global dos meios de informação e comunicação social.
Servindo-se das redes sociais expandidas pela internet, conforme o plano de Steve
Bannon assessor de Trump, levaram a sua falsa mensagem de combate à corrupção
promovendo uma figura de valentão e torturador como lider dos cidadãos que sofrem a
opressão do sistema. E conseguem formar um governo que pretente destruir todas as
conquistas sociais alcançadas sob a orientação de Lula.

1)  Em 1986 o jornal "o diário" criado por Miguel Urbano Rodrigues em Portugal divulgou, segundo o
depoimento do jornalista A.Villaverde Cabral "uma série de reportagens-dossier(…)
em "o diário", por certo o único jornal português com coragem para o fazer". Foi a base da edição
de "O Labirinto da Conspiração" (esgotada) escrita por J.M.Goulão







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