ESTADOS UNIDOS OCUPAM ILHA IEMENITA

2020-03-10
Edward Barnes, Damasco; com Jason Ditz, AntiWar/O Lado Oculto
Tropas dos Estados Unidos ocuparam a ilha de Socotra, no Iémen, juntaram-se ao contingente militar dos Emirados Árabes Unidos ali presente e começaram a instalar sistemas de defesa anti-aérea. O movimento ocorre à revelia do Congresso norte-americano e do próprio “governo” iemenita que Washington reconhece, tutelado pela Arábia Saudita.
A operação foi realizada durante o fim-de-semana por fuzileiros navais norte-americanos. O arquipélago de Socotra localiza-se estrategicamente na abertura do Golfo de Aden, equidistante de África e da Península Arábica; é uma extensão territorial do Corno de África na importantíssima rota naval entre o Indico e o Mar Vermelho, entre o Oriente e o Ocidente. Socotra está administrativamente associada à região do sul do Iémen, a mais importante para a indústria petrolífera do país.
A ilha de Socotra foi ocupada militarmente pelos Emirados Árabes Unidos logo que a oportunidade surgiu no quadro da guerra que este país e a Arábia Saudita impõem ao Iémen - com o apoio dos Estados Unidos, França e Reino Unido. Os Emirados afirmam que “alugaram” a ilha durante 95 anos mas, na realidade, não existem indícios de qualquer acto formal nesse sentido – sabendo-se ainda que o “governo” iemenita instalado na Arábia Saudita não foi consultado sobre o assunto.
Os últimos acontecimentos desencadeados pelo Pentágono antecipam a possibilidade de a ilha, que é herança natural mundial da Unesco, vir a ser transformada numa base militar partilhada pelos Estados Unidos e os Emirados Árabes Unidos.
O arquipélago de Socotra situa-se na zona de impacto estratégico do Estreito de Aden e de Djibuti, onde a China possui a sua única base militar em território estrangeiro. A região é considerada estratégica no quadro da Iniciativa Cintura e Estrada da China pois funciona como um "entroncamento" entre a ligação marítima do Oriente para o Ocidente e o ramo comercial terrestre no continente africano.
Não há notícias de que o Congresso dos Estados Unidos tenha sido consultado sobre esta acção militar de ocupação. O legislativo norte-americano tem insistido com a Administração Trump para retirar todos os apoios que tem dado à guerra contra o Iémen e nunca formalizou qualquer autorização para esse envolvimento, muito menos ao nível da presença de tropas.
Se o Congresso não apoia qualquer intervenção nessa guerra de agressão muito menos permitiria uma intervenção militar directa, ainda que numa ilha que tem estado relativamente à margem dos combates.