LULA ESTÁ EM LIBERDADE!
2019-11-08
Lula está em liberdade! O juiz responsável pela 12ª vara de Curitiba tinha comunicado à Polícia Federal, na tarde desta sexta-feira, que devia ser acatada a decisão do Supremo Tribunal Federal, que na quinta-feira declarou inconstitucional a prisão em segunda instância. Ao cabo de quase 600 dias de prisão com base em suposições de juízes, a saída de Lula da cadeia torna o Brasil mais forte para lutar contra o fascismo bolsonarista.
Teresa Cruvinel*; Desacato.Info/O Lado Oculto
O quadro político no Brasil em breve será outro, quando Lula voltar ao jogo depois de deixar a prisão. Mas antes de falar disso, é imperioso reconhecer: o Supremo Tribunal Federal (STF) tomou uma decisão corajosa na quinta-feira, dia 7, que fortalece a democracia brasileira e a restabelece o primado da Constituição.
Agora Lula volta, depois de quase 600 dias da prisão que resultou de um massacre cruel e impiedoso, de um processo judicialmente viciado cujo propósito, hoje está claro como água, não era combater a corrupção nem fazer justiça, era tirá-lo do jogo político para que não se elegesse presidente em 2018. Lembro-me de vê-lo dizer, numa reunião aberta do Directório Nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), quando começou a ser caçado pela operação Lava Jato: “não sei o que vai acontecer comigo mas quero dizer a vocês que vou sobreviver”.
Sobreviveu a Moro e à Lava Jato. Suportou digna e estoicamente a prisão, não se quebrou física nem moralmente, como seus adversários esperavam. Agora, voltando a ocupar seu lugar no jogo político, o quadro muda.
Bolsonaro já não está à solta
Bolsonaro não estará mais sozinho no proscénio, deixará de ser o jogador sem contendor. Contrariando quem esperava que se moderasse na Presidência, refugiou-se no bolsão radical de 30% da população e passou a hostilizar todos os que com ele não se alinham automaticamente: oposição partidária, imprensa, ONGs, instituições diversas e até actores internacionais. Quem não reza comigo é inimigo. Agora Lula será seu antípoda, a oposição terá líder e o debate político ganhará outro tom. O Brasil tem sido um país em crise discutindo abobrinhas, como as provocações, mentiras e vulgaridades ditas ou cometidas por Bolsonaro, seus filhos e seu séquito mais exaltado.
Não é provável que Lula volte vestido de radical e se dedique a bater boca com Bolsonaro. Ele tem o que Bolsonaro não tem, tino e fina intuição para fazer política, capacidade de diálogo e agregação. Além de tentar reagrupar a esquerda, noves fora Ciro Gomes, tem trânsito para um centro que anda perdido, assustado com Bolsonaro mas necessitado de umas migalhas de poder para sobreviver. E, neste grupo, muitos foram aliados de Lula e andam à procura de um horizonte de futuro.
Saindo da prisão, Lula fará seu acto de gratidão à vigília Lula Livre, aqueles que, como quinta-feira à noite, lá estavam, na porta da Polícia Federal, velando por ele. Depois quer casar-se. A namorada vai buscá-lo a Curitiba. Precisa também de colar alguns cacos no PT. Em seguida vai percorrer o país, testando a própria resiliência e explorando outro de seus trunfos, o talento para se comunicar com o povo.
Dormência popular é grande
O jogo muda e ninguém pode saber hoje o que vai acontecer no Brasil. A dormência popular é grande, Bolsonaro não está morto - ainda tem 30% de óptimo e bom, e outro tanto de regular, na avaliação do governo – mas a economia continua parada, apesar das promessas de Guedes (ministro ultraliberal das Finanças), o desemprego continua alto e a pobreza cresce a olhos vistos. As propostas de austeridade radical, desprovidas de qualquer preocupação social, não seduzem nem os conservadores do Congresso. A trepidação política produzida por Bolsonaro espanta investidores, como se viu no leilão do pré-sal. Com a entrada de Lula em cena, certo é que algo vai se mover, tanto aqui em baixo como na superestrutura política.
*Colunista do website 247; uma das mais respeitadas jornalistas políticas do Brasil