MAIS TROPAS AMERICANAS PARA O MÉDIO ORIENTE
2019-06-18
Martha Ladesic, Washington; Pilar Camacho, Bruxelas
Os Estados Unidos decidiram enviar um reforço de mil efectivos de tropas para o Médio Oriente com o objectivo de “responder aos recentes ataques do Irão”, segundo o secretário da Defesa em funções, Patrick Shanahan. Entretanto correm informações de que o Pentágono prepara “bombardeamentos tácticos massivos” contra alvos iranianos, possivelmente locais da sua indústria nuclear civil.
“Os recentes ataques iranianos validam a confiável e credível inteligência que temos recebido sobre os comportamentos hostis de forças iranianas”, disse Shanahan, ex-executivo da Boeing, grupo com grandes interesses na indústria de guerra. Essas circunstâncias ameaçam pessoal e interesses norte-americanos na região, acrescentou.
O secretário da Defesa aludia aos recentes e ainda não explicados incidentes com navios petroleiros no Golfo de Omã, insistindo assim nas supostas e desacreditadas “provas” do envolvimento iraniano, que não têm sido levadas a sério pela generalidade do mundo incluindo aliados de Washington como a França, a alta representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia e o Japão. A única excepção ao lado de Trump continua a ser o Reino Unido.
Shanahan, parafraseando o presidente Donald Trump, afirmou que os Estados Unidos “não pretendem uma guerra com o Irão”; no entanto, toda a escalada militar dos últimos dois meses indicia exactamente o contrário, sobretudo porque o Pentágono relaciona directamente essa actividade com a suposta agressividade de Teerão.
A imprensa israelita, sobretudo o diário Maariv, está a dar conta de reuniões a alto nível nos Estados Unidos que poderão estar relacionadas com os preparativos de “bombardeamentos tátcticos” contra alvos iranianos, provavelmente associados à indústria nuclear civil. As reuniões decorrem na Casa Branca e, segundo o jornal israelita, apesar das reticências de Trump quanto ao conflito tudo indica que terá “perdido a paciência” com Teerão e dado luz verde aos planos bélicos do seu secretário de Estado, Michael Pompeo.
“Os bombardeamentos serão massivos mas contra um único alvo”, declarou uma fonte anónima citada pelo Maariv.
Nas últimas horas, o presidente francês, Emmanuel Macron, e a alta representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia, Federica Mogherini, assumiram posições prudentes, negando-se a acompanhar o discurso norte-americano na sua escalada anti-iraniana.
Macron e Mogherini, esta à margem de uma reunião dos ministros dos Negócios Estrangeiros da União, preferiram não se pronunciar sobre os incidentes com os petroleiros pondo a tónica no facto de o Irão se manter dentro dos limites do acordo nuclear 5+1, do qual os Estados Unidos se retiraram.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da China, Wang Yi, afirmou por seu turno que o envio de mais tropas norte-americanas para o Médio Oriente significa a “abertura da caixa de Pandora” na região. Segundo o ministro, “a política de pressão psicológica, económica e militar contra o Irão” é “muito provocatória” e representa uma acumulação de esforços “para provocar uma guerra”.
Irão defende-se do embargo
Perante o agravamento das sanções contra a sua indústria petrolífera, designadamente o embargo às importações de petróleo iraniano, Teerão anunciou que vai rever a sua política de se manter dentro dos limites estritos do acordo nuclear de Genebra.
Nesse sentido, as autoridades tencionam ampliar o enriquecimento de urânio para 20%, bastante além dos 3,75% impostos pelo acordo, devido a necessidades da sua política energética nacional e aos problemas criados à indústria petrolífera.
Estas alterações, porém, não podem ser relacionadas com qualquer opção militar nuclear, uma vez que os níveis de enriquecimento necessários para esta utilização são de 90%.
O limite de 3,75% será ultrapassado dentro de cerca de dez dias e, por isso, não foi reflectido no último relatório de inspecções elaborado pela Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA).
Nos termos do anúncio feito por Teerão, não haverá qualquer ultrapassagem do limite de 3,75% de enriquecimento de urânio caso a União Europeia deixe de obedecer às sanções estabelecidas pelos Estados Unidos e volte a importar regularmente o petróleo iraniano.
Neste sentido, a União Europeia tem nas suas mãos a possibilidade de o Irão continuar a cumprir estritamente o acordo de Genebra e no qual Bruxelas é uma das partes.