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O BRASIL AJOELHA-SE ANTE OS ESTADOS UNIDOS

Bolsonaro com John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos, que, em nome de Donald Trump, o convidou para se deslocar a Washington

2018-11-29

Editorial do Portal Vermelho; cooperação com O Lado Oculto

Os sinais emitidos pelo presidente eleito Jair Bolsonaro e a sua equipa indicam que o governo da direita, que tomará posse no 1º de Janeiro de 2019, continuará a seguir uma política externa vexatória. Na outra ponta desta relação de submissão aos Estados Unidos, as autoridades de Washington não se fazem rogadas e apresentam as suas exigências. Que estão expostas com clareza na entrevista do ex-embaixador no Brasil e alto funcionário da diplomacia norte-americana, Thomas Shannon, publicada no dia 22 de Novembro pelo jornal Folha de São Paulo. O “programa” que expõe é de uma simplicidade tocante e atordoante: abertura completa do mercado brasileiro aos produtos dos Estados Unidos, agressão à Venezuela e o afastamento do Brasil em relação à China - "acredito que o presidente eleito e a sua equipa entendem que, ainda que seja importante vender mercadorias à China, o tipo de relações económicas que o país tem com os Estados Unidos oferece muito mais ao futuro do Brasil" – uma frase que, descontado o tom diplomático, é quase uma ordem!

Ordem que preconiza o abandono e desmantelamento da multipolaridade nas relações internacionais, da qual o Brasil foi um dos construtores e teve papel destacado nos governos Lula e Dilma, período no qual cresceu o protagonismo mundial brasileiro como interlocutor responsável nas relações entre as nações. Época em que a insuspeita revista norte-americana Foreign Affairs considerou o ministro brasileiro dos Negócios Estrangeiros, Celso Amorim, como o melhor entre os de todos os países. O Brasil conquistou o respeito mundial e teve um papel destacado no fortalecimento de blocos mundiais como o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul), a Comunidade de Estados Latino Americanos e Caribenhos (CELAC), a União de Nações Sul-Americanas (Unasul), baseados na soberania das nações e à margem de interesses imperialistas como os dos Estados Unidos.

Alinhamento que sairá caro

A submissão que os Estados Unidos querem voltar a impor, e que o governo Bolsonaro e o seu futuro ministro dos Negócios Estrangeiros Ernesto Araújo (que não será considerado o melhor, mas talvez o mais submisso!) que louva a subalternidade ao presidente Donald Trump, revelam um alinhamento ideológico às ordens de Washington e pode significar, além do prejuízo político, um impacto de vulto para a economia do Brasil, pois a China é hoje o maior parceiro comercial do país.

Thomas Shannon quer também que o Brasil se junte aos Estados Unidos para sufocar a Venezuela – cortando inclusive as exportações de alimentos, para reduzir o país vizinho à fome e obrigá-lo a submeter-se às pressões imperialistas. O Brasil, disse, “é um grande fornecedor de alimentos, ou seja, tem outras alavancas que pode usar".

Ele quer que o Brasil abandone sua tradição diplomática de não alinhamento automático, de respeito pela soberania das nações e de intermediário do diálogo necessário para superar conflitos e diferenças entre os países. Diplomacia que foi elevada ao seu nível mais elevado na postura activa e altiva dos governos Lula e Dilma. Além da abertura do mercado brasileiro aos Estados Unidos, o funcionário do Departamento de Estado norte-americano quer o regresso à proteção das patentes (a “propriedade intelectual”) que favorece as empresas multinacionais e a compra de armas pelo governo brasileiro. Fala também em “cooperação” na área de segurança: “Há espaço para uma cooperação em segurança, envolvendo as Forças Armadas dos dois países. Podemos expandir programas de treino, desenvolvimento de tecnologia militar e de armamentos”.

O tom da entrevista do ex-embaixador dos Estados Unidos é o de um sátrapa – uma autoridade colonial que dita regras à nação governada por uma potência estrangeira dominante, desprezando a sua sua soberania nacional.

Há 210 anos, em 28 de janeiro de 1808, a Coroa Portuguesa assinou em Salvador o decreto de Abertura dos Portos às nações amigas, rompendo com o domínio colonial que impunha relações do Brasil apenas com Portugal, a potência colonizadora, e admitindo que o país poderia ter relações com as nações do mundo.

A pretensão manifestada pelo ex-embaixador Thomas Shannon, com apoio  da submissa diplomacia acenada por Jair Bolsonaro, caminha no sentido oposto – submeter-se aos ditames da política neocolonial dos Estados Unidos.

Esta é uma insanidade inacreditável contra a qual as forças democráticas, populares e patrióticas desde já são chamadas a impedir que se concretize; e custa a crer que o Brasil aceite imposições desta natureza e se ajoelhe perante elas.

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