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ITÁLIA LANÇA NAVIO DE GUERRA COM “A FORÇA DA FÉ”

Pouco antes do lançamento do Trieste

2019-06-02

Abençoado com o sinal da cruz, como no tempo dos cruzados, e construído com verbas subtraídas aos investimentos produtivos e às despesas sociais, foi lançado ao mar o mais moderno navio guerreiro, anfíbio e de assalto da Itália/NATO.

Manlio Dinucci, Il Manifesto/O Lado Oculto

Com a presença do chefe de Estado italiano, Sergio Mattarella, da ministra da Defesa, Elisabetta Trenta, do ministro do Desenvolvimento Económico, Luigi di Maio e das mais altas autoridades militares foi lançado ao mar, no passado dia 25 de Maio, nos Estaleiros de Castellammare (Nápoles), o navio Trieste, construído por Fincantieri.

Trata-se de uma unidade anfíbia multitarefas e multifunções da Marinha Militar italiana, definida pela ministra Trenta como “a perfeita síntese da capacidade de inovação tecnológica do país”. Com um comprimento de 214 metros e uma velocidade de 25 nós (46 quilómetros por hora), tem uma ponte de voo com 230 metros para descolagem de helicópteros, caças F-35B de descolagem curta e aterragem vertical e conversíveis V-22 Osprey. No seu bojo pode transportar veículos blindados em 1200 metros lineares. Tem uma rampa de lançamento interna, com 50 metros de comprimento e 15 de largura, que permite ao navio operar com os mais modernos veículos anfíbios da NATO.

Em termos técnicos, é um navio destinado a “proteger e apoiar, em áreas de crise, a força de desembarque da Marinha Militar e a capacidade nacional de projecção da Defesa, a partir do mar”. Em termos práticos, é um navio de assalto anfíbio que, ao aproximar-se das costas de um país, pode atacá-lo com caças e helicópteros armados com bombas e mísseis e depois invadi-lo com um batalhão de 600 homens transportados, com os seus equipamentos pesados, por helicópteros e veículos de desembarque.

Noutros termos, é um sistema de armamento projectado não para a defesa mas para a ofensiva em operações guerreiras conduzidas no quadro da “projecção de forças” Estados Unidos/NATO a longa distância.

Para “socorro humanitário”

A decisão de construir o Trieste foi tomada em 2014 pelo governo de Matteo Renzi. Na altura foi apresentado como um navio militar dedicado principalmente a “actividades de socorro humanitário”.

Os custos do navio, a cargo do Ministério do Desenvolvimento Económico e não da Defesa, foram calculados em 844 milhões de euros, no quadro de um financiamento de 5427 milhões para a construção, além do Trieste, de mais nove navios de guerra. Entre eles, duas unidades navais de alta velocidade para patrulhar forças especiais em “contextos operacionais que requeiram descrição”, isto é operações guerreiras secretas.

Durante o lançamento foi revelado que o custo final do Trieste foi de 1100 milhões de euros, isto é, 250 milhões mais elevado que a despesa prevista. O valor final, porém, será bastante mais elevado porque falta somar-lhe o dos caças F-35B e dos helicópteros embarcados, mais o de outros armamentos e sistemas electrónicos com que o navio será dotado nos próximos anos.

A inovação tecnológica no domínio militar – sublinhou a ministra da Defesa - “deverá ser sustentada por financiamentos assegurados”. Isto é, pelos contínuos e crescentes financiamentos com dinheiros públicos, incluindo os do Ministério do Desenvolvimento Económico, agora conduzido por Luigi di Maio. Na cerimónia de lançamento este prometeu aos operários que haverá outros investimentos: e há, de facto, mais navios de guerra a construir.

A bênção da guerra

A cerimónia de lançamento assumiu um significado transcendente quando o bispo das Forças Armadas, Monsenhor Santo Marcianò, exaltou o facto de os operários terem implantado na proa do navio uma grande cruz decorada com imagens sagradas pelas quais têm devoção, entre as quais as do papa Wojtyla (João Paulo II) e do padre Pio (papa Pio XII). Monsenhor Marcianò elogiou a “força da fé” manifestada pelos operários, que abençoou e a quem agradeceu por “este maravilhoso sinal que colocaram no navio”.

Assim foi lançado o grande navio de guerra dado como exemplo da capacidade de inovação de Itália, pago pelo Ministério do Desenvolvimento Económico com verbas subtraídas aos investimentos produtivos e às despesas sociais, abençoado pelo sinal da cruz, como na época dos cruzados. 


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