CNN SUPERA-SE: GUAIDÓ É “PRESIDENTE ELEITO”
2019-05-08
Martha Ladesic, Nova York; com Jason Ditz, Antiwar.com
A cadeia de televisão de notícias CNN leva tão a sério a tese de que Juan Guaidó é o presidente legítimo da Venezuela que publicou no seu site, no passado domingo, uma notícia na qual afirma que ele foi o vencedor de eleições realizadas em Janeiro.
Numa notícia publicada a propósito de um acidente com um helicóptero militar venezuelano, o texto informa, a dado passo, que “está a aumentar a pressão sobre Maduro para que renuncie, na sequência das eleições de Janeiro em que os eleitores o derrotaram e escolheram o líder da oposição, Juan Guaidó, para presidente”.
Não houve eleições na Venezuela em Janeiro. Juan Guaidó, um membro de um sector fascista da oposição, auto-proclamou-se “presidente interino” em 21 de Janeiro depois de ter recebido um telefonema do vice-presidente norte-americano, Michael Pence.
Na realidade, as últimas eleições presidenciais na Venezuela decorreram há um ano, em 20 de Maio de 2018. O sector fascista da oposição a que pertencem Juan Guaidó e o líder da sua facção, Leopoldo López – agora foragido e refugiado na Embaixada de Espanha em Caracas – apelaram ao boicote da votação, nas quais participaram candidatos representando 25 partidos políticos. O presidente Nicolás Maduro foi eleito com 67,8% dos votos e Juan Guaidó não teve qualquer participação no processo.
A única vez em que Guaidó pretendeu participar numa corrida presidencial não foi propriamente um sucesso de popularidade, mesmo na sua área de oposição. O actual “interino” designado por Washington apresentou-se em 2012 às “primárias” da chamada Mesa Redonda de Unidade Democrática para escolha de um candidato às eleições presidenciais de então. Guaidó não passou daí.
A partir do momento em que os Estados Unidos passaram a designá-lo “presidente interino” da Venezuela, em Janeiro passado, a imprensa norte-americana adoptou a narrativa do regime de Washington e passou a referir-se a Juan Guaidó como presidente “devidamente eleito”, apesar de não ter ocorrido qualquer acto eleitoral para o efeito. Agora a CNN decidiu ultrapassar a concorrência e superar-se a si própria como fabricante de fake news, inventando umas eleições de que o “interino” foi ganhador, “derrotando Maduro”.
A notícia da CNN é assinada por duas jornalistas seniores da estação, Jeanne Bonner e Jackie Castillo. Mais quatro jornalistas contribuíram para a sua redacção, nomeadamente recorrendo ao enquadramento do contexto com uma declaração do secretário de Estado, Michael Pompeo segundo a qual “Maduro é alguém que não poderá participar no futuro da Venezuela”.
O artigo esteve online na versão original durante todo o dia de domingo e a noite de domingo para segunda-feira. Só já no dia 6, quando o texto começou a ter menos visitantes devido à sobreposição de artigos, a CNN alterou a redacção informando que Guaidó “se tinha declarado presidente interino”.
Só alguém contemplado com o Nobel da ingenuidade pode admitir que o fabrico das eleições em Janeiro na Venezuela tenha sido uma “gralha” que escapou a seis jornalistas da CNN, dois deles com elevado estatuto. O fenómeno, bem como a sintonia da comunicação de grande consumo norte-americana em torno da expressão “devidamente eleito” para qualificar Guaidó, revelam bastante bem como funciona a praga de fake news à qual o mainstream se considera imune e de que se diz vítima.
O episódio de superação da CNN para explicar a “realidade” na Venezuela poderá funcionar muito bem como um “case study” em termos de manipulação da informação, vulgo fake news nos dias que correm.