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VITÓRIA DE MADURO, DESCALABRO DE TRUMP

Mike Pence, vice-presidente de Trump, com Guaidó, ainda o homem de Washington para a Venezuela

2019-02-27

José Reinaldo de Carvalho*, Brasil247/O Lado Oculto

A reunião do chamado Grupo de Lima - um arranjo artificial de países liderados por governos conservadores, reaccionários ou de extrema-direita, que mais se assemelha a um cartel - realizada na segunda-feira (25), em Bogotá, foi o segundo "Dia D" programado para derrubar o governo legítimo e constitucional de Nicolás Maduro.

Resultou num retumbante fracasso do imperialismo norte-americano. Mike Pence, o vice-presidente de Trump, volta a Washington de mãos vazias e Trump viaja desapontado a Hanói para se encontrar com o sereno e sorridente líder norte-coreano Kim Jong-un, já habituado a aplicar-lhe nós táticos.
O primeiro "Dia D" foi o já histórico 23 de Fevereiro, quando o povo venezuelano, sob a liderança de Maduro, do Partido Socialista Unido da Venezuela, do Grande Polo Patriótico - em que se reúnem importantes forças da esquerda venezuelana, entre estas o Partido Comunista e o Pátria para Todos e movimentos sociais e políticos - escreveu uma página épica.
Contra todos os prognósticos dos media corporativos internacional, os venezuelanos “chavistas” dissiparam o dispositivo montado nas fronteiras brasileira e colombiana pela administração de Donald Trump e os governos satélites de Bolsonaro e Ivan Duque, que pretendiam forçar a entrada no país de uma suposta ajuda humanitária. A operação foi desmascarada como um dos muitos pretextos para viabilizar uma intervenção militar e um golpe de Estado.

Recuo na invasão

A reunião do dito cartel de Lima na segunda-feira seguinte, em Bogotá, foi também uma derrota para o governo Trump, um descalabro diplomático mesmo num palco em que todos os actores eram membros da mesma trupe.
Os governos reunidos em torno do vice-presidente dos EUA, Mike Pence, não se sentiram em condições de apoiar a intervenção militar. Até mesmo o fantoche Juan Guaidó, traidor da pátria, que antes do início da reunião vociferou pedindo que a agressão armada não fosse descartada, acabou admitindo o recuo, ainda que temporário. O próprio Pence elevou o tom da retórica ameaçadora, mas não se sentiu em condições de propor algo mais que mudasse de imediato qualitativamente a situação.
Neste mesmo campo diplomático, os Estados Unidos já tinham fracassado em Janeiro último no seu intento de fazer com que a Organização dos Estados Americanos (OEA), terreno que lhe é habitualmente favorável, reconhecesse a legitimidade de Guaidó como "presidente interino" e impusesse a convocação de novas eleições presidenciais, anulando os efeitos da vitória de Maduro e da sua posse constitucional. Também no mês de Janeiro, os Estados Unidos promoveram uma reunião extraordinária, de emergência e aberta do Conselho de Segurança da ONU e assistiram não só à negativa do pedido de reconhecimento de Guaidó, como engoliram a seco a transformação da mesma reunião numa espécie de acto político e diplomático em que a maioria dos oradores se solidarizaram com a Venezuela e o seu governo 
A derrota temporária, entre o último sábado e segunda-feira, das pretensões intervencionistas, golpistas e belicistas dos Estados Unidos contra a Venezuela não encerram a crise nem conjuram o perigo de guerra. A reunião foi marcada por uma retórica agressiva e profundamente reaccionária, antivenezuelana e antidemocrática, mesmo quando - como foi o caso do vice-presidente brasileiro, o general Hamilton Mourão - houve a rejeição da intervenção militar.
As palavras de ordem adoptadas na reunião do cartel de Lima reunido em Bogotá incorporam ameaças, apelos à divisão das Forças Armadas Bolivarianas, aumento das sanções, pressão diplomática e acusações levianas.
Mas Nicolás Maduro sai vencedor das refregas que antecedem o Carnaval, ao qual fez alusões bem-humoradas durante o seu épico discurso do sábado à tarde. Efectivamente, ganha tempo. Mostrou aos inimigos que tem margem diplomática, com alianças estratégicas, apoio de amplas massas populares, união cívico-militar. Fez uma aposta na Resistência e na garantia da estabilidade e da paz.
Com uma política acertada, mobilização popular e preparação militar, mostrou que estava capacitado para defender a pátria em caso de agressão. Merece ganhar a paz.
Os acontecimentos na Venezuela mostram também que os tempos são outros. O imperialismo norte-americano não tem as mãos totalmente livres. Há no mundo de hoje importantes factores de contenção. A luta anti-imperialista é o primeiro deles, mas há, sim, outros mais.

*Jornalista brasileiro, pós-graduado em Política e Relações Internacionais, diretor do Cebrapaz – Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz. Integra o projeto Jornalistas pela Democracia



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