BRASIL ENTRE O NEOFASCISMO E A FRENTE AMPLA
2018-09-03
Zillah Branco, especial para O Lado Oculto
A sustentação do golpe de Temer et cataerva em 2016, na pressa de vender o património nacional ao desbarato, retirar os benefícios sociais criados por Lula devolvendo à fome milhões de famílias brasileiras, engessando a Justiça nas mãos de juízes autoritários, destruindo as leis laborais e de segurança social, abrindo as portas dos serviços públicos às privatizações, minando as iniciativas de formação universitária e desenvolvimento das ciências, deixou visível a face podre das alianças políticas com uma direita enrustida herdeira da ditadura de 1964, subordinada ao imperialismo norte-americano.
Se, por um lado, propiciou a conscientização da esquerda e dos movimentos sociais fortalecidos por 13 anos de conquistas cidadãs - os Sem Terra nos campos, os Sem Tecto nas cidades, os que combatem os preconceitos de género, de etnias, de opção sexual, de direitos de cidadania, por todo o território imenso do Brasil - também abalou os sectores da burguesia conservadora com tendências de direita. Despontou uma direita neofascista, radical, que fala em nacionalismo apregoando a prepotência civil e militar de estupradores e torturadores tão bem conhecidas em toda América Latina quando amordaçada por ditadores, para levantar uma bandeira de rebeldia e desmandos capaz de atrair jovens perdidos no caos económico e social que deriva da crise sistémica e dos meticulosos programas mediáticos que (de)formam a opinião pública.
Bolsonaro, a ameaça neofascista
As sondagens eleitorais dão 20% dos votos ao candidato dessa área, Jair Bolsonaro. Este perigo político e humano alertou a direita conservadora que sempre viveu "em berço esplêndido" resolvendo os pequenos problemas da elite como se fossem os de todo o povo.
O panorama eleitoral para a direita estreitou-se face a esta opção terrorista neofascista, e apenas conseguiu a figura controversa de Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo, incapaz de defender os direitos sociais e a soberania nacional; um "bate-orelhas" ou “pau mandado” às ordens dos Estados Unidos com ar de boa pessoa e beneficiando apoio mediático. As sondagens eleitorais prevêem entre 6 a 9% para o "picolé de chuchu", como ficou conhecido.
Entre tais opções, os conservadores com convicções patrióticas e de moral burguesa repensam os problemas do caminho neoliberal que levaram o Brasil à dependência financeira e à destruição das indústrias de base e infraestruturas, garantias de desenvolvimento com autonomia.
Esta direita nacionalista e desenvolvimentista começa a ver em Ciro Gomes um candidato mais coerente com ela, "apesar de ser de esquerda". Outra opção seria Marina Silva, que defende o tema da ecologia com grandes elogios aos latifundiários que "começam a substituir os tóxicos cancerígenos por produtos que respeitam a natureza" (uma conversa chocha que não convenceu antes, quando foi candidata à Presidência em substituição a Eduardo Campos, do Partido Socialista Brasileiro, que morreu na queda de uma avioneta).
Frente Ampla à esquerda
Diante deste quadro da direita fracturada, a esquerda brasileira alcançou uma primeira vitória histórica: a unidade de vários pré-candidatos de partidos de esquerda, movimentos populares e sindicatos, formando a Frente Ampla em torno de um programa de governo objectivo.
Partido dos Trabalhadores (PT) e Partido Comunista do Brasil (PC do B) formaram uma chapa, uma dupla candidatura à Presidência e Vice-Presidência, respectivamente com Lula e Manuela D’Ávila; como o poder judiciário continua a impedir a participação de Lula (ignorando o Pacto Internacional assinado com a ONU em 1985 e ratificado pelo Congresso em 1992), será Fernando Hadad o representante do PT na candidatura presidencial.
Mesmo preso, Lula tem 40% do apoio eleitoral, segundo as sondagens.