O LADO OCULTO - Jornal Digital de Informação Internacional | Director: José Goulão

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GRATIDÃO ITALIANA AOS MÉDICOS CUBANOS: “AJUDARAM-NOS SEM PEDIR NADA”

2020-06-01

“Tínhamos naufragado e vocês socorreram-nos sem nos perguntar sequer o nome e a origem”. Stefania Bonaldi, presidente do Município italiano de Crena, na província de Cremona, região italiana da Lombardia”, manifestou assim em 25 de Maio, a gratidão e apreço aos médicos e enfermeiros cubanos da Brigada “Henry Reeve” que durante semanas ajudaram no dramático combate ao coronavírus na martirizada zona. “Vencemos porque funcionámos em comunidade”, demonstrando que “as grandes batalhas não são ganhas por heróis solitários”, disse. Estendendo o agradecimento “ao povo cubano” perante as autoridades civis e religiosas da região, Stefania Baldini sublinhou que os médicos e enfermeiros cubanos foram “uma presença discreta mas eficaz, respeitosa mas determinada, calma mas confiante”. Crema, a Itália, no fundo os países da Europa continuam à espera dos prometidos e incertos milhões de “ajuda de emergência” da União Europeia, que se fazem esperar embrulhados em exigências directas e também disfarçadas.

Stefania Baldini*, especial O Lado Oculto

Caros amigos cubanos

Serei verdadeiramente breve porque, melhor que as minhas palavras, a nossa imensa gratidão é visível nas faces das autoridades aqui presentes, a quem a agradeço de todo o coração com uma emoção particular dirigida aos colegas presidentes de municípios e aos administradores de Crema que representam outras faces, tantas outras faces. São todos os habitantes de Crema, sem excepção, que vos apertam num abraço afectuoso e sincero, mas também pleno de nostalgia porque estamos certos de que nos ireis faltar como irmãos.

Sabemos isso muito bem porque nós, os italianos, fomos um país de migrantes e conhecemos os sentimentos que acompanham as deslocações. Ireis faltar-nos mas não ireis desaparecer porque as nossas consciências irão conservar as dádivas de cada um de vós e ficarão mais fortes na convicção de que em Crema jamais alguém irá sentir-se estrangeiro; a partir de agora temos um argumento decisivo a contrapor a quem pretenda prejudicar ou diminuir o nosso sagrado dever de hospitalidade.

Lembraremos a vossa presença tranquilizadora que, num momento de incerteza sem precedentes e de perigo iminente, foi como um medicamento eficaz. Irá faltar-nos o que vocês silenciosamente representaram nestas últimas semanas, a começar pela certeza de que o nosso planeta só pode combater e vencer as desigualdades, as injustiças e as emergências quando todos os povos conseguirem confraternizar.

Ao chegarem, vocês disseram que a vossa pátria é o mundo e, por isso, a partir de agora sereis sempre nossos compatriotas neste vasto mundo tantas vezes maltratado pela falta do valor supremo da solidariedade. Tínhamos naufragado e vocês socorreram-nos sem nos perguntar sequer o nome ou a origem.

Após meses de lutos, de angústia, de dúvidas agora já conseguimos ver a luz, mas apenas porque nos aproximámos uns dos outros. Mulheres e homens do nosso Sistema de Saúde da Lombardia ficámos ligados a vós, queridos médicos e enfermeiros da Brigada Cubana “Henry Reeve” e, através de vós, ao vosso generoso povo, encontrando na vossa competência e paixão o oxigénio necessário para manter viva a confiança indispensável nesta luta.

Não há heróis solitários

Sem vós tudo teria sido muito mais difícil. Na nossa cidade e na nossa região durante estes últimos meses multiplicaram-se os gestos de solidariedade e de generosidade e conseguimos voltar a ver a luz dos sentimentos de proximidade que se tinham diluído no hábito, desgastados pela rotina. Sentimentos estes de humanidade e de fraternidade que vocês também alimentaram com a uma presença discreta mas eficaz, respeitosa mas determinada, calma mas confiante.

Vocês chegaram no momento mais dramático e bateram-se connosco para transformar “os lamentos em dança”, uma dança colectiva, para provar que as grandes batalhas não são ganhas por heróis solitários mas sim pelas comunidades; o que aconteceu na nossa terra confirma-o e demonstra-o.

Vencemos porque funcionámos em comunidade, porque fomos, graças a vocês também, uma bofetada no individualismo, o aliado preferido da adversidade. Fomos uma comunidade, é certo, multicultural e muito humanista. Um grupo que não admitia derrotas e, de facto, não fomos derrotados. Lutámos enquanto povo apaixonado e conceptual, evitando o risco de ser uma multidão caótica e sem vontade alimentada apenas pelo medo. Tornámo-nos adversários inteligentes de um patógeno assassino e também ele inteligente. Convosco foi mais fácil.

Muito obrigada em nome de todos os cidadãos e cidadãs de Crema, da nossa região, da Lombardia, de toda a Itália

*Stefania Baldini, presidente do Município de Crema, província de Cremona, região da Lombardia, Itália


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