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ENERGIAS LIMPAS AVANÇAM NA CALIFÓRNIA

Alta Wind Energy Center, na Califórnia

2019-08-19

Jorge Fonseca de Almeida*, especial para O Lado Oculto

A cidade de Berkeley, no Estado norte-americano da Califórnia, tomou recentemente uma decisão que pode vir a ter larga repercussão na economia mundial: a proibição da ligação à rede de gás natural das novas casas a construir na cidade. Com esta medida a cidade pretende contribuir para a luta contra o aquecimento global, por uma economia descarbonizada e pela maior utilização de energias renováveis.

O movimento pela proibição do gás natural em nova construção pode alastrar a toda a Califórnia.

A Califórnia usa várias fontes de energia, sendo a mais importante o gás natural, logo seguida das energias renováveis como a solar e a eólica. De facto mais de 30% da energia das casas californianas já é de origem renovável.

A proibição insere-se na competição entre estes dois ramos industriais, com as empresas produtoras de energias renováveis a apoiar/impulsionar as políticas verdes.

Objectivo Energia Eléctrica Limpa 

                        

 A Califórnia tem oficialmente o objectivo, vertido em Lei, de atingir uma produção eléctrica 100% limpa e renovável até 2045. Vão ser anos de intensa transformação do perfil energético de um dos mais poderosos e influentes Estados dos EUA.

Este objectivo foi estabelecido pelo anterior governador, Jerry Brown, em 2018 e reafirmado pelo atual governador, Gavin Newsom, que foi, aliás, vice-governador de Jerry Brown.

A Califórnia não foi o primeiro Estado norte-americano a estabelecer este objectivo; o Hawai tinha-o feito antes, mas é o primeiro grande estado a fazê-lo, dando à decisão uma importância de alcance internacional.

Trata-se de uma política aparentemente na contracorrente da estratégia de Donald Trump para a energia nos Estados Unidos e no mundo. Na verdade, porém, ao diminuir o consumo interno de gás natural, ela liberta a possibilidade de exportação deste produto, uma ideia que os EUA estão activa e agressivamente a prosseguir, procurando encontrar na Europa um grande comprador. Para isso, os Estados Unios precisam de substituir, no todo ou em grande parte, os actuais fornecedores de gás à Europa – a Rússia, a Argélia e os países do Médio Oriente.

                                                                                    Barragem de O'Shaughnessy na Califórnia

Gás na Cozinha


 A proibição de Berkeley compreende-se melhor quando sabemos que a queima de gás nas cozinhas urbanas é um dos maiores poluentes do nosso tempo. 

O gás é mais limpo que o petróleo para a produção de energia eléctrica, mas o seu uso doméstico, nomeadamente em fogões, aquecedores, esquentadores, etc., é uma das maiores fontes de emissão de gases de efeito de estufa, principalmente de monóxido de carbono. 

Na combustão do gás na cozinha é também libertado o dióxido de nitrogénio (azoto), um gás tóxico. Por isso as cozinhas a gás devem também ter exaustores, dispositivos a electricidade, que removam estes gases letais e os lancem na atmosfera. 

Competição entre ramos industriais


Enquanto o gás natural usado na Califórnia tem origem, sobretudo, no Wyoming, o Estado produtor de energia desde o carvão, ao gás natural passando pelo petróleo, as energias renováveis californianas são completamente locais e apoiadas politicamente pelas autoridades e pelo investimento estadual.

Recorda-se que a Califórnia tem boas condições para a exploração da energia hidroeléctrica e que possui já uma rede muito grande de barragens, contando-se em mais de 250 as centrais produtoras de energia hidroeléctrica no Estado.

Ao nível de energia eólica, a Califórnia tem instalações gigantescas como a de Alta Wind Energy Center, a terceira maior do mundo em terra (a primeira é o projeto chinês de Gansu), e a maior dos Estados Unidos.

A Califórnia dispõe também, no campo da energia solar, de várias instalações de grande porte como a Solar Star, a maior do mundo, a Desert Sunlight Solar Farm, a Topaz Solar Farm e outras também de grande dimensão. 


                                                                                                Energia termal solar

A Califórnia tem também energia solar obtida do aquecimento da água em grandes tanques assentes em torres. A água é aquecida fazendo incidir os raios de sol nos tanques através de milhares de espelhos helióstatos. A Ivanpah Solar é a maior fornecedora deste tipo de energia.

A energia geotermal é também explorada nomeadamente na zona a norte de São Francisco, os The Geysers, área onde foram construídas dezenas de centrais eléctricas de aproveitamento da água quente subterrânea. 

           

                                                                           Esquema de central eléctrica geotermal

Em suma, a Califórnia desenvolveu toda uma indústria polifacetada de produção de energias limpas, podendo agora avançar com objectivos ambiciosos de independência energética ao nível estadual e implementar políticas restritivas da nociva poluição atmosférica.

Um exemplo de como uma região ou um país pode libertar-se de constrangimentos externos e caminhar para níveis superiores de independência energética – um objectivo estratégico para qualquer país.

Um exemplo a que os governantes portugueses deviam dar atenção.

*Economista, MBA


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