JAPÃO DESMENTE WASHINGTON; POMPEO PREPARA A GUERRA
2019-06-15
Martha Ladesic, Nova York
O proprietário do petroleiro japonês danificado quinta-feira no Golfo de Omã, o Kokuka Courageous, negou que o navio tivesse sido alvo de rebentamento de minas, o que contradiz as versões postas a correr, sem quaisquer provas, pelos principais dirigentes norte-americanos, incluindo o presidente Trump. Entretanto, o secretário de Estado, Michael Pompeo, multiplica contactos no Congresso no sentido de lançar uma guerra contra o Irão dispensando a autorização da câmara.
Yukata Katada, proprietário do navio japonês, declarou em conferência de imprensa que “algo voou em direcção à embarcação”, atingindo-a de acordo com uma trajectória iniciada bem acima do nível do navio. Katada declarou-se “absolutamente certo” que não foi um torpedo “nem uma mina ou qualquer outro objecto que tenha aderido ao casco do navio”. Segundo afirmou, a versão divulgando a existência de minas no casco “é falsa”.
Os Estados Unidos continuam a insistir na tese de que os petroleiros foram danificados por minas, embora sem apresentar qualquer prova concreta.
O Comando Central (CentCom) do Pentágono, cuja área de intervenção é o Médio Oriente, pôs a circular um vídeo de má qualidade explicando que se trata de um barco patrulha iraniano removendo uma mina do casco do Kokuka Courageous. A comunicação social iraniana lembrou que as tripulações dos dois petroleiros atingidos foram resgatadas por barcos de patrulha iranianos, razão pela qual se encontravam no local.
Numa entrevista à Fox News, estação de televisão que é um dos seus mais importantes porta-vozes, Donald Trump disse: “Foi o Irão que fez isto, sabemos muito bem porque vimos o vídeo; eu acho que uma das minas não explodiu e provavelmente terá Irão escrito por todos os lados”.
Não houve qualquer confirmação prática do que o presidente dos Estados Unidos disse. Nenhum dirigente ou funcionário oficial norte-americano aceitou comentar o testemunho feito pelo proprietário do navio japonês.
A versão de Trump limitou-se a confirmar, algumas horas depois, as ideias expostas em primeiro lugar por Michael Pompeo num encontro com a comunicação social que durou quatro minutos e no qual não foram permitidas perguntas dos jornalistas.
Pompeo, o secretário de Estado, tornou-se notado em recente entrevista na qual, aludindo aos tempos em que foi director da CIA, garantiu que na agência “mentimos, enganámos, roubámos”.
O ministro britânico dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido, Jeremy Hunt, não precisa de provas para acreditar na versão de Washington. “Vamos efectuar a nossa própria avaliação independente”, disse. “Temos os meios para fazer isso”, acrescentou, “mas não temos motivos para não acreditar na avaliação norte-americana; o nosso instinto é acreditar, porque eles são os nossos aliados mais próximos”.
Guerra à revelia do Congresso
Membros do Congresso de Washington revelaram que, em plena discussão do orçamento da Defesa, foram contactados por Pompeo defendendo a existência de condições que conduzam à guerra contra o Irão contornando a necessária autorização da câmara.
“Fomos colocados perante uma apresentação sobre a validade de normas aprovadas em 2001 que permitem a abertura de hostilidades com o Irão”, testemunhou a congressista Elissa Slotkin, democrata do Michigan. “O secretário de Estado disse-o com as suas próprias palavras”, acrescentou.
A autorização invocada por Pompeo assenta nas origens da chamada “guerra contra o terrorismo” e diz, designadamente, que o presidente “pode usar a força necessária e apropriada contra nações, organizações ou pessoas que planearam, autorizaram, auxiliaram ou cometeram os ataques terroristas que ocorreram em 11 de Setembro de 2001, ou abrigaram tais organizações ou pessoas, a fim de impedir quaisquer actos futuros de terrorismo internacional contra os Estados Unidos por essas nações, organizações ou pessoas”.
A lei geral norte-americana estabelece que o presidente só pode entrar em guerra com autorização do Congresso. Os esforços de Pompeo vão no sentido de contornar esse princípio integrando a situação iraniana no contexto de excepção da “guerra contra o terrorismo”.
Donald Trump tem tentado várias vezes associar o Irão à al-Qaida, processo débil até como mensagem primária de propaganda devido ao conhecido antagonismo frontal entre as raízes da revolução xiita iraniana e o sunismo radical invocado pelos herdeiros de Bin Laden