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O Parlamento Europeu suspende a sua sessão mensal, as pessoas cumprimentam-se com os pés, políticos e futebolistas ficam de mãos estendidas porque os contactos acabaram, competições desportivas são adiadas, evitam-se ajuntamentos. Entretanto a Europa vai ser invadida por 30 mil soldados norte-americanos que, acompanhados por mais dez mil de países da NATO, irão dedicar-se a jogos de guerra contra “a ameaça russa” em dez países europeus, entre os quais a Itália, o mais atingido pelo coronavírus. Disse coronavírus? O que é isso comparado com a “ameaça russa”?
Consta dos anais diplomáticos dos finais dos anos sessenta do século passado que os Estados Unidos reconheceram a sua derrota militar no Vietname a partir do momento em que cederam perante as partes vietnamitas na discussão sobre o formato da mesa de conversações em Paris – que, na prática, reconheceu o Governo Revolucionário Provisório do Vietname do Sul. Cinquenta anos depois, a assinatura de um acordo com os Talibã em Doha, no Qatar, é a confissão da derrota norte-americana na sua mais longa guerra, a do Afeganistão. Uma derrota que não é apenas dos Estados Unidos mas também da NATO – logo dos próprios governos que integram a aliança.
Existem muitos apoiantes influentes da guerra nuclear e alguns deles afirmam que o uso de armas de “baixo rendimento” e/ou de curto alcance pode ser assumido sem o risco de uma escalada para o Armagedão total. De certa forma, o seu argumento é comparável ao do grupo de optimistas de olhos em alvo que pensavam, aparentemente a sério, que poderia haver qualquer coisa como “rebeldes moderados”.
Em Março, cerca de 7500 efectivos de combate norte-americanos viajam para a Noruega, onde se juntarão a milhares de soldados de outros países da NATO numa imensa batalha simulada contra forças “invasoras” russas. Neste empenhamento com carácter futurista – que tem o nome de Cold Response (Resposta Fria) 2020 – as forças aliadas “realizarão exercícios multinacionais conjuntos num cenário de combate de alta intensidade em exigentes condições de Inverno”, explicam os militares noruegueses. À primeira vista parece ser mais um dos jogos de guerra da NATO mas, pensando melhor, o Cold Response 2020 nada tem de comum. Em primeiro lugar, é encenado acima do Círculo Polar Ártico, longe de qualquer anterior campo de batalha tradicional da NATO; e eleva para um novo nível a possibilidade de um conflito de grandes dimensões que pode terminar num confronto nuclear e na aniquilação mútua. Bem-vindos, por outras palavras, ao mais novo campo de batalha da Terceira Guerra Mundial.
A informação supostamente com origem na “oposição da Síria” divulgada pela comunicação social corporativa a propósito da guerra contra este país é gerada por um tentacular sistema de propaganda montado pelo governo britânico em conjunto com empresas privadas pertencentes a ex-oficiais das forças armadas e dos serviços secretos de Londres. As provas constam de documentos oficiais resultantes de fugas de informação recentes.
Quase duas décadas depois da invasão e ocupação do Afeganistão a seguir ao 11 de Setembro e após uma guerra interminável que custou mais de mais de dois biliões (milhões de milhões) de dólares é difícil não haver nada de "histórico" num possível acordo de paz entre os Estados Unidos e os Talibã na cidade de Doha, no Qatar.
Depois de ter manipulado os resultados de um referendo que não corresponderam aos seus interesses e de ter imposto a nova designação do nome do país – com a cumplicidade do Syriza na Grécia – a NATO acaba de anexar a Macedónia do Norte através da aprovação do “Protocolo de Adesão”, consumada por um Parlamento absolutamente domesticado. Isto é, depois de ter “balcanizado” os Balcãs com a guerra de esfacelamento da Jugoslávia, a NATO “desbalcaniza” agora a região, unindo-a sob a sua própria bandeira. De fora está apenas a Sérvia – e espoliada do Kosovo através de uma agressão militar da aliança.
O ministro dos Transportes da Síria, Ali Hammoud, anunciou terça-feira, dia 25 de Fevereiro, a libertação total da principal via de comunicação do país, a Autoestrada M5, que liga de norte a sul as mais importantes cidades do país: Alepo, Hama, Homs e Damasco. A estrada tem estado cortada em vários sectores desde meados de 2012.
No mundo em que vivemos os criminosos de guerra têm a certeza da sua impunidade e o jornalismo de investigação está em vias de ser considerado um crime de espionagem – esta é uma das leituras que o Relator Especial das Nações Unidas sobre a Tortura, o suíço Nils Melzer, faz do processo contra o fundador e director do WikiLeaks, Julian Assange, conduzido pelos Estados Unidos com a cumplicidade de vários governos, entre eles Reino Unido, Suécia e Equador. Desde a falsificação, pela polícia sueca, de um processo “por violação” à tortura a que tem vindo a ser submetido em Londres, passando pelo julgamento secreto já em marcha nos Estados Unidos perante um júri da CIA, Melzer desmonta os contornos tirânicos e criminosos da perseguição a Assange. “Dizer a verdade está a tornar-se um crime”, adverte o relator da ONU. Nos dias em que a viciada justiça britânica aprecia o pedido de extradição de Assange apresentado pelos Estados Unidos, o Lado Oculto dá voz à esclarecedora entrevista de Nils Melzer ao website Republik, uma publicação de língua alemã. É a nossa manifestação de solidariedade com Julian Assange, em defesa da liberdade de informar e ser informado e dos direitos humanos.
No ano fiscal de 2021 o orçamento dos Estados Unidos prevê despesas da ordem de um milhão de milhões de dólares para a guerra, que comparam com 94500 milhões no sector da saúde e serviços humanitários (menos 10% que em 2020), apesar de só nos últimos quatro meses terem morrido 10 mil cidadãos norte-americanos vítimas de gripe comum. São estas as prioridades do regime de Washington, que se diz inquieto com “o ressurgimento de Estados nacionais rivais, nomeadamente a China e a Rússia”. É preciso, diz o documento, “aumentar a nossa vantagem bélica” sobre esses e outros países.
Westlessness. Poderá traduzir-se como o défice de Ocidente na cena internacional e foi o mote escolhido para a Conferência de Segurança de Munique deste ano, em 16 e 17 de Fevereiro, como sempre uma organização associada à NATO. Percebeu-se, pela escolha desta temática, que o Ocidente vive uma crise existencial, com saudades de tempos recentes em que podia destroçar a Jugoslávia, bombardear a Sérvia, arrasar o Afeganistão, desmembrar o Iraque e a Líbia sem ter contraditório. Na origem da inquietação ocidental está, como foi abundantemente aflorado como eco da exposição do chefe do Pentágono, a crescente presença da Rússia e da China na arena internacional - que se reflecte no aparecimento de um efeito dissuasor da impunidade colonial. Não admira, portanto, e perante a presença de convidados “inimigos”, que às tantas à conferência tivesse parecido um diálogo de surdos.
O reforço da Informação Independente como antídoto para a propaganda global.
Bastam 50 cêntimos, o preço de um café, 1 euro, 5 euros, 10 euros…