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Um discurso recente do diplomata principal da União Europeia, Josep Borrell, que fez soar campainhas porque sugere “o fim da liderança” norte-americana, indicia que o velho continente pode estar a ensaiar uma nova ordem nas relações com a Ásia namorando a Rússia – uma estratégia cujo comando poderia ser assumido pela Alemanha. Mas será apenas uma maneira de testar a hegemonia chinesa?
Tomar o aeroporto de Caracas, capturar o presidente Nicolás Maduro com o objectivo de o enviar para os Estados Unidos – ou matá-lo, em alternativa – era o objectivo principal da operação terrorista de 3 de Maio contra a Venezuela, de acordo com as confissões dos mercenários – entre eles dois ex-membros das forças especiais dos Estados Unidos – capturados na ocasião. A acção está expressa como “objectivo principal” no contrato estabelecido entre o chefe fascista Juan Guaidó, auto-intitulado “presidente interino”, e a empresa de mercenários Silvercorp, da Florida, igualmente prestadora de serviços ao actual presidente dos Estados Unidos. Conheça os meandros do contrato e os métodos de gestão pretendidos por Guaidó, o “presidente” da Venezuela reconhecido por numerosos países da União Europeia, entre os quais o governo da República Portuguesa.
Completaram-se 75 anos sobre a derrota militar do nazi-fascismo. Então, as chamadas democracias liberais juntaram-se às “democracias iliberais” em redor da agenda de comemorações estabelecida por estas e que apaga da História o decisivo contributo da União Soviética para a vitória – ditando assim a segunda morte das mais 26 milhões pessoas sacrificadas neste país para que ela fosse possível. Não foi uma celebração, foi uma vingança.
Enfrentada a crise do novo coronavírus na província de Hubei, especialmente em Wuhan, a China reanima decididamente as actividades económicas e sociais tendo também em consideração que está a ser vítima de uma concentração de ataques norte-americanos e ocidentais para conter o país como potência emergente. Pequim reage procedendo à restauração das próprias forças e também no âmbito da parceria estratégica com a Rússia, que adquire novas valências. O mundo está em mudança.
Que o Brasil se tornou um pária mundial, já ninguém duvida. Venho escrevendo sobre este processo há anos, mas agora parece que tal avaliação, após o brilhante desempenho do governo Bolsonaro na pandemia do COVID-19, se tornou praticamente unânime. Unanimidade inteligente, acrescente-se. Mas como se deu esse processo lamentável de transformação do cisne do soft power multilateralista no patinho feio de uma total subserviência unilateralista?
As autoridades da República Popular da China estão a levar a sério o comportamento agressivo dos Estados Unidos, incluindo na frente militar, e consideram que o risco de guerra directa atingiu o nível mais elevado desde os acontecimentos na Praça Tiananmen, Pequim, em 1990.
Imaginemos que os países poriam de lado as suas diferenças para montar uma campanha internacional eficaz contra a pandemia de COVID-19. Que deixassem de se agredir para combater o vírus. Que em vez de manterem porta-aviões navegando pelo mundo, em demonstrações de força, competiriam para apurar qual deles poderia fornecer mais máscaras faciais e ventiladores. Não acham que isto seria terrível? Um sinal de uma nova e perigosa ameaça?
O governo italiano de Giuseppe Conte fez a sua escolha: sabendo que não pode contar com a “solidariedade” de uma União Europeia sem rei nem roque e onde a economia é sempre mais importante que as pessoas; e enquanto vai aproveitando as ajudas russa, chinesa e cubana acabou por pedir “assistência” a Donald Trump. Que não se fez rogado, faltando conhecer quanto e como os italianos irão pagar em troca.
Entre os incontáveis e arrasadores efeitos geopolíticos do coronavírus, um já está perfeitamente evidente. A China reposicionou-se. Pela primeira vez desde o início das reformas de Deng Xiaoping, em 1978, Pequim encara explicitamente os Estados Unidos como uma ameaça, como declarou há um mês o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, na Conferência de Segurança de Munique, durante o auge da luta do seu país contra o coronavírus.
Na Holanda decorre um julgamento espectáculo pretensamente associado à tragédia do avião da Malaysia Airlines que fazia o voo MH-17 em 17 de Julho de 2014. Na verdade, não é de justiça que tratam os participantes no show, mas sim de tentar validar para a história uma mentira que ultraja a memória de todos os que perderam a vida naquele dia. Os actores participam, afinal, numa grande encenação de viciação geopolítica.
A Europa está fechada. Enquanto isso, 30 mil soldados norte-americanos invadem o continente até Julho nas maiores manobras militares em 25 anos. O que acontece na altura em que o presidente dos Estados Unidos decide banir as entradas dos europeus no seu país. Em pleno combate à pandemia de coronavírus, prioridade à guerra.
O chefe do regime fundamentalista turco, Recep Tayyip Erdogan, é o responsável pela reactivação da guerra da Síria através do seu crescente envolvimento militar, ao lado dos terroristas, para impedir que a província de Idleb seja libertada pelas tropas de Damasco. Ao fazê-lo, o sultão neo-otomano cumpre orientações geoestratégicas de Washington, contra movimentos russos e chineses em direcção ao Mediterrâneo Oriental, mas caiu no que pode ser uma armadilha: sob o poder aéreo russo, as tropas ocupantes turcas estão cercadas pelo Exército Sírio por todos os lados menos por um: o que permite o regresso ao seu país. As “linhas vermelhas” de Damasco e, sobretudo, de Moscovo quanto ao que Ancara tem a fazer, no âmbito do acordo de Sochi de 2018, são irredutíveis.
O reforço da Informação Independente como antídoto para a propaganda global.
Bastam 50 cêntimos, o preço de um café, 1 euro, 5 euros, 10 euros…