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As autoridades da República Popular da China estão a levar a sério o comportamento agressivo dos Estados Unidos, incluindo na frente militar, e consideram que o risco de guerra directa atingiu o nível mais elevado desde os acontecimentos na Praça Tiananmen, Pequim, em 1990.
No momento em que se procede à redacção deste texto, o impacte da pandemia de COVID-19 cifra-se em três milhões de infectados a nível mundial, sendo um milhão deles nos Estados Unidos, país que regista já mais de 55 mil mortes atribuídas ao novo coronavírus, havendo ainda aquelas que não foram contabilizadas e as que se deveram à estratégia de diversionismo mediático de Donald Trump (como foi a de sugerir publicamente a administração de desinfectantes como remédio...). Permanecem desconhecidas as origens do novo coronavírus, mas são reveladoras as políticas adoptadas diferenciadamente por diversos países e já visíveis as suas consequências.
Segundo uma notícia da televisão ABC News, reforçada posteriormente pelos serviços secretos israelitas, a espionagem militar dos Estados Unidos tinha conhecimento, em meados de Novembro de 2019, de um “acontecimento epidémico catastrófico” em Wuhan. O Pentágono continua, porém, a ser ambíguo quanto ao conteúdo ou mesmo à existência ou não de um documento sobre essa matéria. O episódio permite, porém, levantar importantes perguntas: se autoridades de Washington sabiam da “catástrofe” em meados de Novembro porque não se prepararam a tempo para ela e culpam a China de a ter “escondido”? Como sabe a espionagem norte-americana de factos que só vieram a ser conhecidos por médicos chineses de Wuhan mais de um mês depois, na segunda metade de Dezembro? Será que os Estados Unidos “adivinharam” o COVID-19 e os seus efeitos bastante antes de ele ter sido identificado?
Quando em meados de Março o presidente chinês, Xi Jinping, conversou por telefone com o primeiro-ministro de Itália, Giuseppe Conte, antes da chegada de um voo da China Eastern de Xangai para Milão carregado de ajuda médica, o assunto principal foi a promessa chinesa de desenvolver uma Rota da Seda da Saúde (Jiankang Sichou Zhilu).
Entre os incontáveis e arrasadores efeitos geopolíticos do coronavírus, um já está perfeitamente evidente. A China reposicionou-se. Pela primeira vez desde o início das reformas de Deng Xiaoping, em 1978, Pequim encara explicitamente os Estados Unidos como uma ameaça, como declarou há um mês o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, na Conferência de Segurança de Munique, durante o auge da luta do seu país contra o coronavírus.
"Pandemia" é um termo que indica, desde logo, uma sua dimensão global, que diz respeito a todos. O vírus, colocada a questão de forma simples, é uma estrutura que não possui capacidade metabólica autónoma. Sendo inerte fora do ambiente intracelular, recorre às capacidades metabólicas do hospedeiro para a finalidade da sua reprodução. Assim, o vírus desenvolve-se e propaga-se em função da capacidade de interacção dos animais infectados (entre eles, o ser humano), daí que a quarentena se apresenta como o mais antigo e mais seguro meio de combate a um surto viral.
As variedades do novo coronavírus (COVID-19) detectadas na China, em Itália, no Irão, em Taiwan, na Coreia, na Alemanha e em outros lugares são diferentes, todas derivadas de um “tronco original”. Esse “tronco original” foi encontrado unicamente nos Estados Unidos depois de terem sido identificadas todas as variedades e mutações do vírus através da análise de quase cem amostras do genoma colectadas em 12 países de quatro continentes. Por estas circunstâncias torna-se difícil encontrar o “paciente zero” da pandemia, que não está certamente entre os casos que foram descobertos no mercado de frutos do mar em Wuhan, China, em 31 de Dezembro de 2019. Deverá antes ser procurado em território norte-americano mas, aí chegados, o assunto torna-se tabu: trata-se de “um vírus estrangeiro”, sentenciou o presidente dos Estados Unidos cortando cerce o direito à procura de outra verdade.
Consta dos anais diplomáticos dos finais dos anos sessenta do século passado que os Estados Unidos reconheceram a sua derrota militar no Vietname a partir do momento em que cederam perante as partes vietnamitas na discussão sobre o formato da mesa de conversações em Paris – que, na prática, reconheceu o Governo Revolucionário Provisório do Vietname do Sul. Cinquenta anos depois, a assinatura de um acordo com os Talibã em Doha, no Qatar, é a confissão da derrota norte-americana na sua mais longa guerra, a do Afeganistão. Uma derrota que não é apenas dos Estados Unidos mas também da NATO – logo dos próprios governos que integram a aliança.
O reforço da Informação Independente como antídoto para a propaganda global.
Bastam 50 cêntimos, o preço de um café, 1 euro, 5 euros, 10 euros…